O Pilar S: Social do ESG

Se sua empresa quer implementar estratégias sustentáveis, vai precisar entrar a fundo no aspecto Social – o “S” da sigla ESG.

Introdução ao ESG

Antes de entrarmos no aspecto social, vale a pena conhecer mais da sigla ESG, que é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança)

Por ser relativamente novo, o acrônimo ainda é chamado de diferentes formas aqui no Brasil, não sendo tão incomum ver o uso da sigla ASG (trocando o “E” de “Environmental” por “A” de “Ambiental”).

Essa sigla apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Who Cares Wins (Quem se Importa Vence, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial e rapidamente foi adotado pelo mercado financeiro para a avaliação de empresas baseada em práticas ambientais, sociais e de governança.

O pilar “social”

Nesse contexto, o aspecto social envolve toda gama de assuntos da empresa relacionados à sociedade. Parece amplo, não é? De certa forma, é mesmo.

Quando falamos aqui em “social” vamos desde ações com colaboradores e pessoas mais intimamente ligadas ao dia a dia da empresa até a comunidade do entorno, fornecedores, consumidores, etc. 

Antes de dar mais exemplos, vamos falar um pouco mais sobre a história da relação de empresas com o social.

Ah… e um lembrete: caso se interesse pelos outros pilares do ESG, o E e o G, você pode ver mais deles aqui:

Breve Histórico da Evolução da Responsabilidade Social

Você já ouviu falar em responsabilidade social empresarial? E em investimento social privado? Eles são, de certa forma, alguns dos antepassados do S do ESG. Por isso, vamos detalhar esses conceitos.

Responsabilidade social empresarial (RSE)

Hoje, praticamente qualquer executivo já ouviu falar em Responsabilidade Social Empresarial. É o seu caso?

Cinquenta anos atrás, praticamente ninguém conhecia o termo. “Responsabilidade social” surgiu apenas na década de 50, em artigos na Europa e nos EUA.

Assustados com o tamanho das grandes corporações no pós-guerra – e, consequentemente, com seu potencial impacto na sociedade – alguns estudos começaram a falar sobre novas responsabilidades destas empresas.

A elas caberia, segundo esta nova linha, executar ações voltadas para gerar um impacto positivo na sociedade, mesmo que não contribuíssem diretamente para seus lucros. Alguns exemplos simples seriam apoio à educação e à saúde das comunidades dos seus entornos. 

O termo desembarcou com mais força no Brasil na década de 90, junto com a expansão do terceiro setor. Data desta época, por exemplo, o GIFE, que reúne institutos, fundações e empresas em torno da filantropia.

Um ponto curioso deste “desembarque” no Brasil é que, devido à situação social do país, a responsabilidade social ficou muito associada a ações voltadas para pessoas em situação de alta vulnerabilidade social (como distribuições de cestas básicas ou brinquedos no natal, por exemplo).

Responsabilidade social, entretanto, bem como o S do ESG, diz respeito a uma atuação social em sentido amplo, não apenas ações voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Investimento social privado (ISP)

Uma das formas de uma empresa aderir à agenda de responsabilidade social é doando recursos financeiros para iniciativas sociais.

Com o aprofundamento destas práticas, muitas empresas passaram a fazer repasses de forma cada vez mais recorrente e madura. 

Neste contexto, surgiu o conceito de Investimento Social Privado (ISP), ou seja, o repasse de recursos privados para causas sociais de forma planejada, monitorada e sistemática – tal qual investimentos tradicionais.

A diferença desta prática para a filantropia ou a caridade tradicionais é que ela precisa necessariamente ser estruturada e metrificada. Isso passa, por exemplo, por mensuração de impacto e planejamento detalhado.

Exemplos de Ações que se enquadram no S do ESG

Agora que já entendemos o histórico do “S” nas empresas, vamos avançar um pouco e delimitar exatamente sobre o que estamos falando.

Na verdade, talvez NÃO TÃO exatamente. O aspecto social, como você deve imaginar e como já falamos, é bastante amplo. 

Porém, vou dar aqui exemplos bem concretos para tornar mais tangível este “social”:

1 – Diversidade Racial

Quando falamos em diversidade racial, queremos dizer que grupos historicamente minorizados, como negros e pardos, devem ter representatividade em todas as esferas de uma empresa – refletindo a sociedade.

Como, historicamente, estes grupos têm menos acesso a políticas públicas, podem ser necessárias ações afirmativas voltadas especificamente para equacionar distorções. 

Um exemplo vem do varejo. Em 2020, a Magazine Luiza abriu um processo seletivo para trainees exclusivo para pessoas negras. A ideia partiu de uma pesquisa na qual a empresa constatou que apenas 21% dos seus líderes da área administrativa se declaravam negros. O baixo percentual chamou a atenção, pois 51% da empresa se declarava negra. 

Ação Social: Programa de Diversidade Racial da Magazine Luiza

A ação foi bastante contestada por alguns grupos, mas a contestação não foi suficiente para frear o ímpeto da empresa de alcançar 56% de líderes negros (mesmo percentual de negros da população brasileira). Em 2021, a empresa lançou novamente este processo de treinees.

2 – Igualdade de gênero

Você já deve ter ouvido que muitas vezes homens e mulheres exercendo a mesma função recebem remunerações diferentes. Pois bem, esse é um caso flagrante de desigualdade de gênero.

Igualdade de gênero é garantir tratamento e oportunidades iguais a homens e mulheres no ambiente empresarial.

Se o conceito pode parecer óbvio, ele ainda está longe de ser uma realidade. Quer um exemplo? Segundo a jornalista Ana Addobbati, em 2018 havia mais CEOs chamados John do que do sexo feminino nas grandes empresas americanas.

Quando falamos neste assunto, é difícil não pensar na Natura. Ano após ano a empresa é apontada como uma das mais sustentáveis no Brasil.

No campo da igualdade de gênero, ela assumiu o compromisso de ter a alta liderança formada 50% por mulheres até 2030. Em prazo ainda mais curto, quer eliminar todas as discrepâncias salariais entre pessoas de gêneros distintos que realizam a mesma função.

3 – Promoção de saúde mental

Você provavelmente conhece alguém que trabalha no meio corporativo e que teve algum problema mental, certo? Pode ser um caso de depressão ou burnout, por exemplo.

Isso está longe de ser uma raridade. Somente entre 2019 e 2020 o número de afastamentos por doenças mentais cresceu 26% no mundo.

Como este panorama gera uma série de questões humanas e financeiras para as empresas, há um movimento crescente de investimento em ações de promoção da saúde mental.

O Grupo Votorantim é um exemplo. Em 2020 a empresa já oferecia 20 sessões de terapia ao longo do ano, yoga e mindfullness semanais. Durante a pandemia, reduziu a carga horária para meio período em alguns meses.

Campanha social da Votorantim: Como manter a saúde mental na quarentena?

4 – Desenvolvimento das comunidades do entorno

Uma outra forma das empresas impactarem positivamente a sociedade é por meio do fomento a ações que promovam o desenvolvimento de comunidades próximas.

O Credit-Suisse, por exemplo, é uma empresa tradicional do mercado financeiro. Desde 2003 ela conta com um instituto que envia recursos de forma sistemática e planejada para organizações sociais que tenham comprovado impacto na educação brasileira.

Em 2022 o instituto se uniu a outras empresas do mercado financeiro para expandir esta atuação – mudando seu nome para Ambikira.

Ação social do Credit-Suisse: mudança de nome do Instituto

Riscos e Oportunidades no Aspecto Social

Há muitas razões para que sua empresa coloque o pilar social como ponto central da estratégia.

Abaixo vou listar algumas que vão desde questões bem práticas a outras um pouco mais subjetivas. 

Diminuir o turnover

Segundo pesquisas, a maioria dos jovens abaixo de 34 anos, os chamados Millennials e a geração Z, procuram por um trabalho com propósito. Apenas uma boa remuneração ou a promessa de grandes bônus no fim do ano não são mais suficientes para reter um talento por longo tempo.

Uma das formas de mostrar para os colaboradores que sua empresa tem uma preocupação além dos lucros é investindo no pilar social.

Um programa de inclusão, por exemplo, é uma forma de mostrar que sua empresa abraça a diversidade. Em um caminho oposto, não se preocupar com saúde mental, por exemplo, pode sugerir que não há efetiva preocupação com as pessoas que lá estão trabalhando.

Maior acesso a mercado consumidor

Pesquisas recentes vêm mostrando que os millennials (nascidos entre 1982 e 1996) e a geração Z (nascidos de 1996 e 2010) têm hábitos de consumo mais complexos que seus pais. Enquanto os pais avaliavam pouco mais que preço e qualidade, os millennials tendem a pesar também critérios mais subjetivos.

O estudo Generation Z And Consumer Trends In Environmental Packaging, aponta que 70% dos membros das gerações Y e Z gostam mais de produtos alinhados com suas crenças pessoais.

Nesta mesma linha, cerca de 66% dos consumidores da geração Z  preferem produtos com propósito a marcas de luxo ou designs exclusivos.

Isso quer dizer que uma empresa que implemente práticas sustentáveis de forma efetiva tende a ser mais bem vista por estes públicos. Ignorar o cuidado com a sociedade, assim, pode custar caro.

Devolução para a sociedade

Considerando que já fui pragmático na apresentação de motivações para ter um pilar social robusto na sua empresa, vou ser agora mais subjetivo.

Alguns empresários defendem que seu papel social está completo quando mantém a empresa em bom funcionamento, pagando bons salários e benefícios interessantes.

Seria isso verdade? Em partes, com certeza. Para um jovem de uma família de baixa renda, um emprego de salário mínimo pode melhorar substancialmente a vida dos seus parentes.

Por outro lado, vivemos num país dramaticamente desigual no qual – infelizmente – o cumprimento das legislações não garante dignidade.

Assim, acredito que as empresas, quando puderem, devem ter preocupações sociais mais profundas independentemente de benefícios para o negócio. Preocupações derivadas de um entendimento desta complexa situação brasileira. Preocupações que não necessariamente retornem para si.

Um exemplo de empresa que age assim é a FESA Group, na qual já realizei um pequeno projeto. O “salário mínimo” da empresa foi reajustado para um patamar acima do salário mínimo legal. Segundo a corporação, este era o mínimo valor justo necessário para garantir dignidade às famílias dos colaboradores.

Uma preocupação que vai além das buscas de contrapartidas ou das determinações legais!

Últimas palavras: ODSs, materialidade e próximos passos

Talvez você tenha chegado até aqui e concluído que sua empresa já faz muita coisa no pilar social – apenas não está estruturado com nome de ESG.

Talvez seja o caso oposto: acha que a sua empresa ainda não faz quase nada.

Em qualquer dos casos, eu te diria a mesma coisa: implementar um pilar social consistente na sua empresa não é apenas “fazer”. Há passos que precisam ser dados antes.

A materialidade

Com uma agenda tão ampla quanto a social, por onde começar? Igualdade de gênero? Primeiro emprego? Combate à fome?

É muito normal que você não saiba responder a essas perguntas. Na verdade, você nem deve respondê-las. Isso cabe aos seus stakeholders.

O primeiro passo para uma estratégia bem sucedida de ESG é entender quais são os temas materiais (relevantes) para sua empresa. Quem vai dar esta resposta são os stakeholders, que devem responder a uma entrevista voltada para diagnosticar o que eles consideram prioritário.

O resultado das entrevistas mostrará quais são os temas materiais, para os quais devem ser desenvolvidas estratégias com temporalidade e meta.

Matriz de Materialidade do ESG

Acima um exemplo de temas materiais de uma empresa. “Segurança e compromisso com a vida” é um tema material claramente ligado ao pilar social. A empresa deve desdobra-lo em estratégias, metas e planos de ação.

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs)

Você reparou que na imagem acima tem uns quadrados coloridos com números? Eles são outro ponto fundamental da implementação d eum pilar “S” robusto: os ODSs.

ODSs são 17 objetivos criados pela ONU para a promoção de um mundo mais sustentável até 2030. É, em resumo, um conjunto de metas que, se cumpridas, nos levarão a um mundo bem melhor.

Estes abaixo são todos os ODSs:

17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)

Observando a imagem acima, podemos concluir que os ODSs que mais têm sinergia com ações voltadas para os aspectos sociais são:

  • ODS 1 – Erradicar a pobreza
  • ODS 2 – Acabar com a fome
  • ODS 3 – Vida saudável
  • ODS 4 – Educação de qualidade
  • ODS 5 – Igualdade de gênero
  • ODS 7 – Energias renováveis
  • ODS 8 – Trabalho digno e crescimento econômico
  • ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis
  • ODS 16 – Paz e Justiça

Voltando ao exemplo de tema material “Segurança e compromisso com a vida”, ele faz referência aos ODSs 3 e 8 – o que conirma que ele é, prioritariamente, um tema material liga

Próximos passos

Ufa! Foi um longo caminho para chegar até aqui.

O pilar social dos ODSs diz respeito a ações tão amplas quanto o cuidado com a saúde mental dos colaboradores e as doações para as comunidades do entorno.

Devido a essa amplitude, é bem normal que você não saiba por onde começar – seja para “organizar a casa”, seja para fazer do zero.

Por isso, se você quiser implementar um pilar social robusto na sua empresa, baseado em temas materiais e ODSs, conte conosco.

Teremos muito prazer em fazer uma imersão para diagnosticar o que seus stakeholders consideram mais interessante e depois construir junto com você e implementar uma estratégia de sustentabilidade baseada nas melhores práticas de mercado!

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