As chamadas “práticas ESG” são o conjunto de ações desenvolvidas por uma empresa que contemplam o pilar social, o pilar ambiental e pilar de governança.
Em outras palavras, são aquelas práticas que compõem uma agenda de sustentabilidade e fazem da empresa sustentável em médio e longo prazo.
Sei que talvez a definição acima tenha sido vaga e não tenha respondido totalmente à pergunta do título. Mas eu não esperava mesmo dar uma resposta matadora em dois parágrafos, porque a resposta é relativa.
A agenda ESG é ampla e varia MUITO de empresa para empresa. Por isso, é praticamente impossível definir de forma rápida e universal quais são suas práticas.
Para te dar uma explicação mais precisa sobre o que são práticas ESG, terei que voltar dois passos e começar falando de materialidade.
O que é materialidade – e porque as práticas ESG dependem dela?
Responda rápido: a distribuição de cestas básicas por uma empresa é uma prática ESG?
A resposta certa é: depende da empresa.
É impossível responder a essa pergunta – bem como é impossível implementar ESG – sem começar pela materialidade.
A materialidade é, em resumo, a definição dos temas materiais da empresa. Em outras palavras, a definição dos temas relevantes para aquela empresa na ampla agenda ESG.
Se você tiver interesse em se aprofundar na definição de ESG, incluindo materialidade, temos posts maiores e mais completos nos quais eu falo sobre O que é ESG e porque é importante para sua empresa, Empresas ESG: por onde começar?, Investimentos ESG, como aprovar um orçamento para ESG na minha empresa e também especificamente sobre o pilar ambiental, o pilar social e o pilar de governança.
Definindo materialidade
Para definir os temas materiais (relevantes) na agenda ESG, uma empresa precisa começar ouvindo seus stakeholders.
Deve ser feita uma longa lista de stakeholders internos e externos, que responderão a um questionário padronizado sobre questões ligadas a ESG.
Os stakeholders responderão sobre quais temas acham mais relevantes na lista. As respostas serão disponibilizadas numa matriz, parecida com esta abaixo, que apontará quais são os temas materiais para esta empresa.
Quais são os temas da agenda ESG?
Lendo o tópico acima, você poderia me perguntar: “A definição de materialidade parte de uma lista pré-definida de temas?”.
A resposta, embora ainda em formação, é que sim.
Em dezembro de 2022 a ABNT criou a Norma ABNT PR 2030, primeiro material orientativo sobre o tema ESG no país. Uma recomendação de bases técnicas para regulamentações futuras.
A norma ABNT PR 2030, que você pode ler em mais detalhes neste post sobre o que é a Norma ABNT PR 2030, destrincha os pilares ambiental, social e de governança em 19 temas, que se desdobram em 42 critérios:
Eixo Ambiental
No eixo ambiental temos 5 temas com 14 critérios:
Mudanças climáticas
- Mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE)
- Adaptação às mudanças climáticas
- Eficiência energética
Recursos hídricos
- Uso da água
- Gestão de efluentes
Biodiversidade e serviços ecossistêmicos
- Conservação e uso sustentável da biodiversidade
- Uso sustentável do solo
Economia circular e gestão de resíduos
- Economia circular
- Gestão de resíduos
Gestão ambiental e prevenção da poluição
- Gestão ambiental
- Prevenção da poluição sonora (ruídos e vibrações)
- Qualidade do ar (emissão de poluentes)
- Gerenciamento de áreas contaminadas
- Produtos perigosos
Eixo Social
No eixo social temos 5 temas com 15 critérios:
Diálogo social e desenvolvimento territorial
- Investimento social privado
- Diálogo e engajamento das partes interessadas
- Impacto social
Direitos humanos
- Respeito aos direitos humanos
- Combate ao trabalho forçado ou compulsório
- Combate ao trabalho infantil
Diversidade, equidade e inclusão
- Políticas e práticas de diversidade e equidade
- Cultura e promoção de inclusão
Relações e práticas de trabalho
- Desenvolvimento profissional
- Saúde e segurança ocupacional
- Qualidade de vida
- Liberdade de associação
- Política de remuneração e benefícios
Promoção de responsabilidade social na cadeia de valor
- Relacionamento com consumidores e clientes
- Relacionamento com os fornecedores
Eixo Governança
No eixo governança temos 4 temas com 13 critérios:
Governança corporativa
- Estrutura e composição da governança corporativa
- Propósito e estratégia em relação à sustentabilidade
Conduta empresarial
- Compliance, programa de integridade e práticas anticorrupção
- Práticas de combate à concorrência desleal (antitruste)
- Engajamento das partes interessadas
Práticas de controle e gestão
- Gestão de riscos do negócio
- Controles internos
- Auditorias interna e externa
- Ambiente legal e regulatório
- Gestão da segurança da informação
- Privacidade de dados pessoais
Transparência na gestão
- Responsabilização (prestação de contas)
- Relatórios ESG, de sustentabilidade e/ou relato integrado.
Será a partir desta listagem que a empresa preparará o questionário a ser feito para stakeholders internos e externos. E a partir deste questionário ela entenderá seus temas materiais.
Mas o que isso tem a ver com as práticas ESG da empresa? Tudo. Explico abaixo.
As práticas ESG de uma empresa a partir da materialidade
Considerando estes dois tópicos acima, acredito que tenha ficado claro que, apesar da agenda ESG ser ampla, é possível elaborar um corte definindo os temas materiais de cada empresa.
A partir deste corte, aí sim, é possível planejar e implementar práticas ESG.
Se, por exemplo, uma empresa tiver como tema material “Diálogo social e desenvolvimento territorial”, “investimento social privado” pode ser uma prática ESG.
Porém, se este tema não for material, o investimento social privado não é uma prática ESG.
O fato de uma prática ser ou não ESG para determinada empresa dependerá deste tema ser considerado material. É uma condição necessária.
Para exemplificar de novo, retomo aqui a questão do início do texto: “A distribuição de cestas básicas por uma empresa é uma ação ESG?”.
Depende, pois dependerá intimamente da materialidade da empresa.
Antes de finalizar o texto, gostaria ainda de falar sobre práticas não-ESG disfarçadas de ESG: greenwashing ou socialwashing.
Estas duas definições falam sobre empresas que simulam implementar práticas ligadas ao pilar ambiental ou social, respectivamente, sem que isto seja efetivo.
Pode ser, por exemplo, uma marca de carros poluentes dizendo que é ambientalmente sustentável devido às peças recicladas do automóvel ou uma corporação que é desleal com fornecedores e promove o comércio justo.
A melhor forma de atestar se uma empresa está exercendo estas práticas é lendo seus relatórios de sustentabilidade. Se a empresa tiver compromisso com a transparência, tende a adotar um padrão de relatoria, como o relatório GRI, e a seguir seus princípios do relato.
Uma última palavra
Acredito, de verdade, que a sustentabilidade é o futuro das empresas. Porém, ela não pode ser encarada de uma forma rasa e simplificada.
ESG encarado desta forma pode representar uma série de desvios, como socialwashing ou greenwashing.
Pode, também, desaguar em um conjunto de práticas não materiais para a empresa – o que no fundo não contribui em nada para sua sustentabilidade.
Empresas sustentáveis não só contribuem para um mundo melhor, como atesta o Pacto Global da ONU e outras iniciativas chave em investimentos ESG, como também para sua própria sobrevivência. São mais lucrativas em longo prazo, atraem mais investimentos orientados por estratégias de investimentos ESG e tendem a se adaptar mais rapidamente a novas exigências regulatórias.
Se você quer implementar práticas ESG na sua empresa, conte conosco! A Norte está pronta para te assessorar nesta caminhada e pode te ajudar com uma consultoria.
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