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O mercado de investimentos ESG, aqueles que consideram pilar ambiental, pilar social e pilar de governança para tomada de decisão de investimento, tem experimentado um crescimento substancial nos últimos anos.

Segundo o Global Sustainable Investment Review 2020, estratégias de investimento que consideram critérios ESG movimentaram US$ 36 trilhões em 2020 contra “apenas” U$S 13 trilhões em 2012.

Boa parte desse crescimento deve-se a iniciativas que vêm fortalecendo e estruturando o campo de investimentos ESG pelo mundo.

Este texto tem como objetivo apresentar estas iniciativas e apontar o trabalho que elas vêm fazendo.

Lembrando que, se quiser informações complementares, temos um conteúdo específico sobre o que é ESG e porque este conceito é importante para sua empresa e outro sobre o que é investimento ESG.

Iniciativas da ONU

Sei que pode parecer contraintuitivo, mas um dos principais players a favor dos investimentos ESG no mundo é a Organização das Nações Unidas (ONU).

A ONU foi fundada em 1945, para gerenciar iniciativas supranacionais e evitar um novo conflito global como a 2a guerra mundial.

Desde o início ela teve um papel fundamental no crescimento da agenda ESG e sustentável pelo mundo. Não à toa, a sigla ESG apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Quem se importa vence: conectando mercados financeiros a um mundo em mudança, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial.  

Considerando esse protagonismo, vou focar este texto nas principais iniciativas da ONU para o crescimento dos investimentos ESG.

Pacto global da ONU

Fundado em 2000 numa iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com empresas, o Pacto Global foi o primeiro e definitivo passo da ONU em direção aos investimentos ESG.

As empresas signatárias do pacto se comprometem a seguir 10 princípios comuns nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e a desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.

Esta era, em 2022, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com 16 mil participantes de 160 países.

Iniciativa Financeira do Programa das nações unidas para o meio ambiente (PNUMA)

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi fundado em 1972. É hoje a principal autoridade global na agenda ambiental

O PNUMA atua junto com representantes de governos e da sociedade civil, fomentando fóruns, órgãos de pesquisa e acordos bilaterais.

Devido a este protagonismo, em 1992 alguns bancos se juntaram ao programa e criaram a iniciativa financeira da PNUMA, com objetivo de levar os princípios da sustentabilidade para o mercado financeiro.

A iniciativa cresceu e hoje conta com 300 membros no mundo.

Foi por conta desta iniciativa que nasceram importantes organismos em prol dos investimentos ESG: 

Principles for Responsible Investment (PRI)

O PRI é uma rede internacional de investidores que se comprometem a aplicar princípios ESG em suas decisões de investimento.

A rede PRI provê para os signatários suporte nas seguintes áreas:

  1. Ferramentas e reports sobre as melhores práticas ESG do mercado de investimentos
  2. Plataforma colaborativa para troca de experiências entre investidores
  3. Reviews, análises e informações sobre questões regulatórias ligadas a investimentos ESG no mundo.
  4. A academia PRI, com estudos acadêmicos sobre investimentos ESG

Como contrapartida, os signatários do PRI se comprometem a reportar anualmente os seus investimentos baseados em ESG, que ficam disponíveis para a rede e para o público. Além disso, a partir de 2018, também passaram a se comprometer a:

  1. Utilizar critérios ESG em pelo menos 50% dos investimentos
  2. Designar um staff para implementação de políticas ESG na empresa
  3. Envolver a alta direção da empresa em compromissos específicos com a implementação dos princípios ESG

O sucesso do PRI – bem como seu protagonismo em investimentos ESG – pode ser medido pelo seu crescimento significativo nos últimos anos. Os números podem ser vistos no gráfico abaixo:

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC)

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), como o nome já diz, é uma iniciativa da ONU que foca fundamentalmente na questão do aquecimento global.

A convenção passou a funcionar em 1992, a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, em 1992. 

Anualmente a convenção se reúne nas Conferences of Parties (COPs), que acontecem em diferentes países e centraliza as conversas sobre os temas.

As resoluções das COPs são bem difundidas e acabam virando parâmetro para empresas e para investimentos ESG. Algumas delas você já deve conhecer, como:

Protocolo de Kyoto, de 1997. Foi o primeiro tratado internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Entre as metas, estabelecia a redução de 5,2%, em relação a 1990, na emissão de poluentes, principalmente por parte dos países industrializados.

Acordo de Paris, de 2015. Assinado por 195 países, é um compromisso mundial sobre as alterações climáticas e prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

Estes dois pactos, como disse logo acima, tiveram forte influência nos investimentos ESG. Eles passaram a servir como parâmetros para investidores. 

É bem possível que, se você quiser receber investimentos deste tipo, tenha que enquadrar suas atividades nas metas dos pactos.

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs)

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são 17 objetivos globais estabelecidos pela Agenda 2030, que, se alcançados, levariam o mundo para um lugar bem mais justo e sustentável até 2030. 

Cada um destes objetivos tem uma lista separada de metas a serem alcançadas. Se todas as metas de um objetivo forem alcançadas, este objetivo estará cumprido!

Ao todo são 169 metas que abrangem questões de desenvolvimento social e econômico, incluindo pobreza, fome, saúde, educação, aquecimento global, igualdade de gênero, água, saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social.

Os ODSs são hoje amplamente considerados por investidores ESG. Por isso, qualquer estratégia ESG a ser implementada pela sua empresa, bem como os relatórios de sustentabilidade que forem feitos sobre elas, precisam necessariamente considerar os ODSs.

O que fazer com estas informações?

Se você quer tornar sua empresa mais sustentável para atrair investimentos ESG, precisará necessariamente alinhar sua organização com as iniciativas acima listadas – ou pelo menos com parte delas.

Por isso, vou te propor aqui ações concretas:

  1. Entre para o Pacto Global – O Pacto Global é uma forte referência mundial em sustentabilidade, acompanhado por investidores ESG. Por isso, se sua empresa ainda não faz parte do Pacto e deseja atrair este tipo de investimentos, faz sentido entrar no site e ver como você pode participar já!
  1. Se aprofunde no PRI – O Principle for Responsible Investment (PRI) é hoje o principal hub mundial de investidores ESG. Se aprofunde nas suas práticas e materiais. Isso pode te ajudar a entender os desejos destes investidores e a criar relacionamentos que podem ser muito úteis no futuro!
  1. Se alinhe às resoluções das COPs – Como disse acima, as resoluções das COPs, como o Tratado de Paris e o Protocolo de Kyoto, costumam ser referenciais poderosos para investidores. Tenta implementá-las na sua empresa.
  1. Considere ODSs na sua estratégia de sustentabilidade – É muito importante compreender com quais ODSs sua empresa está alinhada, considerar algumas metas destes ODSs na sua estratégia de sustentabilidade e, principalmente, comunicar isso para o público. Investidores ESG podem exigir que sua empresa esteja integrada com estes objetivos e vão querer isso claro no seu relatório GRI.

Espero que este texto tenha te ajudado! Se precisar da nossa assessoria para implementar iniciativas ligadas à sustentabilidade na sua empresa, teremos prazer em te ajudar. Fale conosco e conte seus planos!

Você já quis transformar sua empresa em uma empresa ESG? Se não, provavelmente você terá essa vontade nos próximos anos.

As exigências para que empresas se adequem a uma agenda sustentável, atendendo ao pilar ambiental, ao pilar social e ao pilar de governança, está vindo de todos os lados.

Para começar, segundo o Principles for Responsible Investing (PRI), em 2020 as 50 maiores economias do mundo já tinham mais de 700 políticas regulatórias ligadas a sustentabilidade. 20 anos antes, 97% delas sequer existiam.

Também em 2020, 36% dos ativos sob gestão no mundo já eram investidos seguindo algum critério ESG. 

Por fim, em estudo realizado pela Nielsen em 2015, 66% dos clientes estavam dispostos a pagar mais por produtos ESG em comparação a 33% em 2013. Com os millenials invadindo o mercado consumidor nos próximos anos, pode ter certeza que esse percentual aumentará.

Devido a este cenário, o texto a seguir se dedicará a apresentar como você pode transformar sua empresa em uma empresa ESG e com isso ter vantagens competitivas frente a outras empresas.

O que é ESG?

Antes de começar, gostaria de explicar o significado destas três letras. Se você já dominar o assunto, pode pular esta parte! 

ESG é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança)

O conceito, surgido no começo dos anos 2000, é um frame – ainda amplo – por meio do qual o mercado financeiro passou analisar aspectos sustentáveis de empresas. Com o tempo, o frame saiu do mercado financeiro e foi adotado como padrão global.

Triple Botton Line

O “precursor” do ESG foi um conceito surgido na década de 90 chamado Triple Botton Line, também conhecido como “tripé da sustentabilidade”.

Segundo ele, uma boa gestão empresarial deveria ter foco na sustentabilidade de forma ampla, considerando aspectos sociais, ambientais e econômicos

Ou seja: o resultado financeiro positivo deveria estar atrelado ao bom uso de recursos naturais e sociais.

Quando o mercado financeiro incorporou a análise de fatores ambientais e sociais, a dimensão da “governança” passou a ser também considerada. Afinal, sem uma boa governança, não haveria permanência das boas práticas.

O surgimento do termo “ESG”

Foi neste contexto que surgiu o conceito de ESG. A sigla apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Quem se importa vence: conectando mercados financeiros a um mundo em mudança, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial

Segundo o estudo, empresas que têm um desempenho melhor em critérios ESG agregam mais valor aos seus acionistas e são mais competitivas em um mercado global, já que gerenciam melhor seus riscos e antecipam ações regulatórias

Também contribuem para o desenvolvimento sustentável dos lugares em que operam e para a resiliência do mercado financeiro como um todo.

A partir deste estudo, a ONU passou a atuar efetiva e decisivamente no crescimento do ESG pelo mundo, atraindo cada vez mais empresas e investidores.

O que cada letra quer dizer?

A agenda ESG ainda é ampla e carece de definições mais claras. Porém, neste post ESG: o que é e por que é importante para sua empresa? eu detalho um pouco melhor o significado de cada letra.

Ambiental: o primeiro pilar de sustentabilidade do ESG vai considerar elementos ligados ao meio ambiente, tais como biodiversidade, mudanças climáticas, poluição e recursos e segurança hídrica.

Já o pilar social leva em consideração temas ligados à sociedade, como responsabilidade com consumidor, saúde e segurança, direitos humanos e comunidade e normas de trabalho. Falo com mais detalhes dele em Social: tudo sobre o pilar “S” de ESG.

Por fim, no pilar de governança, assuntos relevantes são anticorrupção, governança corporativa, gestão de riscos e transparência fiscal. Você pode ler mais sobre este pilar em Governança: tudo sobre o pilar “G” de ESG.

O que é “empresa ESG?”

Antes de seguirmos, me permita pontuar mais uma coisa: o que chamo de “empresa ESG”. 

Uma empresa ESG, no meu entendimento, é aquela que tem uma estratégia de sustentabilidade em constante execução e atualização. 

Em outras palavras, é a que olha de forma constante para os pilares ambiental, social e de governança, colocando-os no centro da estratégia e considerando-os nas tomadas de decisão.

A diferença entre ser ESG e apenas se preocupar com ESG

Ai você me pergunta: mas será que toda empresa não é ESG? Afinal, qualquer empresa se preocupa, em algum nível, com questões ambientais, sociais e de governança para sobreviver.

Tenho certeza que sim. Mas ser ESG vai bem além disso.

Uma empresa ESG precisa diagnosticar temas materiais em entrevistas com stakeholders, identificar os mais importantes, construir uma estratégia a partir deles, implementar a estratégia e, por fim, relatar o avanço da estratégia em relatórios padronizados.

Se algum destes passos soou como “coisa de outro mundo” para você, não se preocupe. Logo mais vou detalhar cada um. 

Aqui, fui propositalmente breve, pois quis “apenas” mostrar que ser ESG nao é só questão de querer ou de estar fazendo alguma coisa social ou ambiental. 

Ser uma empresa ESG demanda metodologia e, principalmente, colocar a preocupação com sustentabilidade no centro da estratégia.

Vantagens competitivas de empresas ESG

Considero que ESG seja uma urgência para sua empresa. Apesar do Brasil estar atrasado nesta onda, ela – felizmente – vai crescer nos próximos anos e você deve se adequar o quanto antes.

Para defender porque acho ESG urgente, vou detalhar abaixo algumas vantagens competitivas de empresas que implementam a agenda ESG.

Melhores resultados financeiros

Diversos estudos apontam de forma bem clara: empresas sustentáveis performam melhor em longo prazo. 

Ou seja: empresas que logo descobrem quais questões ESG são mais estratégicas para seu negócio têm melhor desempenho do que seus concorrentes.

O ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3, que desde 2005 reflete o desempenho do conjunto de empresas mais sustentáveis da bolsa, mostra isso. Repare que, consistentemente, as empresas sustentáveis têm desempenho melhor: 

No total, a rentabilidade das empresas consideradas mais sustentáveis é de 240%, contra 224% da carteira formada pelas ações do índice Ibovespa.

Seria só coincidência? Um recorte pouco amplo? Segundo Robert Eccles, professor de Harvard, não. Ele acompanhou o desempenho de 180 empresas entre 1992 e 2010, sendo 90 delas consideradas sustentáveis e 90 não-sustentáveis. O resultado é que as sustentáveis tiveram desempenho financeiro consistentemente melhor.

Se para você a relação entre sustentabilidade e resultados financeiros é nebulosa, há alguns elementos que ajudam a clarificar. 

Empresas que adotam a agenda ESG têm, por exemplo, menor risco de multas, menos desperdícios e menor turnover. Tudo isso impacta custo e afeta o resultado.

Ou seja: falar de ESG é falar de resultados de longo-prazo.

Imagem e reputação da marca aprimoradas

Os millennials e a geração Z estão vindo aí e serão a grande força de consumo deste século. E eles vão exigir que sua empresa seja ESG.

Como eu disse na introdução deste texto, em pesquisa da Nielsen, 66% dos clientes relataram maior disposição para pagar por produtos amigáveis a ESG em comparação com 33% da mesma pesquisa em 2013

A disposição destas gerações em “consumir ESG” é tão grande que se reflete até nas suas decisões de investimento. 

Uma pesquisa da Morgan Stanley de 2019 mostrou que 95% dos millennials tinham interesse em investimentos sustentáveis.

Maior acesso a fontes de investimento

Se hoje 36% dos recursos sob gestão no mundo já são investidos seguindo critérios ESG, isso se deve à crescente mobilização de investidores. 

Para você ter uma ideia, o PRI, aliança global pelos investimentos ESG, cresceu 30% ao ano desde 2006, alcançando 3.000 membros em 2020.

Naquele mesmo ano, quase metade dos recursos da Europa já eram destinados exclusivamente a empresas ESG. Este percentual era de 25% nos EUA e assombrosos 63% na Austrália/Nova Zelândia. 

Esta é uma grande oportunidade para sua empresa. Se você fizer dela uma empresa ESG, terá acesso a fontes de investimento crescentes que possivelmente não estão ao alcance dos seus competidores. 

Um outro ponto importante neste item: Europa e EUA vêm endurecendo aspectos regulatórios ligados à sustentabilidade para empresas que pretendem abrir o capital em bolsa. 

Esta onda já chegou ao Brasil, a partir da resolução CVM 59, e promete ficar bem mais rígida nos próximos anos. 

Se você tem interesse em saber mais sobre ESG Investing, prática que vem crescendo no mundo todo, leia neste post de Investimentos ESG: o que é e como preparar sua empresa para atrair este capital.

Benefícios pessoais de ser um profissional ESG

Uma das consideráveis barreiras para o crescimento da agenda ESG pelo mundo é a falta de pessoas qualificadas e capacitadas no tema.

O boom da sustentabilidade data dos anos 90 e o próprio termo “ESG” surgiu apenas em 2004. Por isso, é natural que ainda não tenhamos fontes de informação, cursos e carreiras tão bem estabelecidos quanto em outros mercados mais consolidados.

Acredito que isso seja uma grande oportunidade e que valha a pena se capacitar já para este futuro mais sustentável.

Para ser mais claro, vou listar benefícios pessoais que você pode colher da decisão de se capacitar em ESG hoje:

Se você é um empresário

Caso você seja um empresário, se capacitar na agenda ESG é fundamental para fortalecer o seu negócio.

ESG está intrinsecamente ligado a gestão de riscos. Entender e implementar ESG é também olhar, sob outra ótica, possíveis riscos invisíveis para sua empresa e prepará-la para enfrentá-los.

Em 2014, por exemplo, uma fábrica da Coca-cola na Índia foi fechada porque acabou com os recursos hídricos da região e afetou a agricultura local. Este é claramente um risco ligado a ESG que foi ignorado pelo empresário responsável por levar a fábrica para a região. 

Num sentido oposto, se você estiver capacitado na agenda ESG, pode não só evitar riscos como esse, como aumentar a rentabilidade do seu negócio, diminuir o custo do capital e até aumentar o valor de uma futura venda.

Se você é um executivo

Acredito, de verdade, que num futuro próximo especialistas em sustentabilidade serão tão básicos quanto desenvolvedores são hoje para empresas de tecnologia.

E, talvez, tão raros.

Por isso, se você quer construir um diferencial para sua carreira, sugiro se capacitar na agenda ESG.

Como já mencionado mais de uma vez, as exigências regulatórias ligadas à sustentabilidade estão aumentando muito. Cada nova regulação aumenta também a pressão para que empresas contratem profissionais que as auxiliem a se adequar.

Outro movimento que gerará essa pressão de demanda por profissionais ligados à sustentabilidade serão as exigências de investidores. Como também citado mais de uma vez por aqui, num futuro próximo será necessário cumprir critérios ESG para acessar capital. E empresas pagarão caro para ter profissionais que possibilitem este acesso

Poderia me estender por muitos parágrafos aqui, mas acredito que já tenha ficado claro que, num futuro próximo, ser um especialista em ESG será um ativo significativo para sua carreira. Por isso, comece já a se capacitar!

Se você é um investidor

Se você investe o dinheiro de outras pessoas, provavelmente busca o melhor retorno financeiro possível. Por isso, é fundamental se especializar na agenda ESG.

Estudos já citados comprovam que empresas sustentáveis alcançam melhores resultados de longo prazo. Maior clareza sobre riscos, menor custo de capital, menor turnover, etc. fazem destas empresas mais rentáveis e previsíveis.

Considerando isso, é fundamental que você tenha as ferramentas necessárias para atestar se uma empresa é realmente sustentável. Como os relatórios de sustentabilidade ainda são pouco padronizados, você precisará ter uma lente apurada e treinada para perceber quais são as empresas realmente sustentáveis e quais são aquelas que têm práticas de sustentabilidade descoladas da sua estratégia e por vezes até enganosas.

Por isso, ser um investidor capacitado em ESG é ser um investidor que coloca ao seu lado maiores chances de sucesso nos investimentos!

Passo-a-passo para iniciar a jornada ESG da sua empresa

Para começar, repare que usei o termo “jornada” de forma consciente. Transformar sua empresa em ESG é um caminho de muitos passos.

Já conversei com algumas empresas que queriam implementar ESG no modo easy. Uma, por exemplo, queria escolher projetos sociais para apoiar – sem nem saber se aquilo fazia algum sentido numa estratégia de sustentabilidade.

Isso, vai por mim, não é implementar ESG. Porque implementar ESG no modo easy não existe

É uma jornada e tem metodologia.

Devido a esta complexidade, acredito que você precisará de um guia especializado nesta jornada. Você pode ter esse guia já dentro da sua empresa. Caso não tenha, gostaria de te lembrar que estamos aqui para te apoiar caso você queira implementar ESG na sua empresa no modo real. 

A Norte tem experiência, metodologia e pode te assessorar em cada uma das etapas – do diagnóstico ao relatório.

Falando nas etapas, vou me aprofundar agora em cada uma delas:

Passo 1: identifique questões materiais

O primeiro passo para fazer da sua empresa uma empresa ESG é priorizar. 

A agenda ESG é ampla e contempla assuntos tão diversos quanto relação com acionistas e gestão de resíduos sólidos. 

Por isso, a priorização é fundamental.

Mas como priorizar? Simples: entendendo quais são os temas materiais da sua empresa. 

Entenda “materiais” como “relevantes”. Sempre que eu falar “materialidade” me refiro, assim, à “relevância”.

Neste passo, portanto, você deve identificar as questões materiais da sua empresa na ampla agenda ESG. E deve fazer isso ouvindo.

Como identificar a materialidade?

A materialidade jamais deve ser definida a partir da alta liderança ou de um pequeno comitê. 

Na verdade, não deve ser definida por ninguém específico. A materialidade deve ser identificada a partir da escuta de stakeholderes internos e externos.

Uma longa lista de variados stakeholders deve ser ouvida a partir de um questionário padronizado. Este questionário deve conter perguntas, com respostas simples, sobre questões da ampla agenda ESG. 

Serão as respostas a estas perguntas que indicarão os próximos passos.

Obs: a nova diretiva da Comissão Europeia sobre relatórios corporativos reconhece o conceito de “dupla materialidade”, defendendo que a materialidade deve levar em conta os riscos para empresas e investidores, mas também para pessoas e o planeta. 

Produzindo a matriz de materialidade

Com as respostas para estas questões, é hora de estabelecer prioridades. 

As respostas devem ser colocadas em uma matriz que prioriza os temas apontados como mais relevantes. Veja abaixo o exemplo da matriz de materialidade da Nestlé:

ESG: Matriz de Materialidade da Nestlé

Aqui um outro exemplo de matriz de materialidade, retirado do relatório de sustentabilidade da TIM. Repare que esta matriz associa diretamente a materialidade aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU (sobre os quais falarei logo mais):

ESG: Exemplo de Matriz de Materialidade da TIM

 

Passo 2: Estabeleça metas concretas

Você verá que a matriz será uma poderosa ferramenta de priorização. Ela aponta temas de interesse dos stakeholders que também são prioritários para a empresa. É nestes que você deve se concentrar.

Aqui um cuidado: selecione entre 3 e 5 temas materiais, não mais que isso. Diversas estratégias de sustentabilidade erram ao tentar abraçar múltiplos temas, que são desenvolvidos de forma marginal pela empresa. Foque no que é importante.

Selecionados estes temas, você deverá definir metas concretas para cada um. Para ajudar neste ponto, alguns exemplos:

Environmental (ambiental)

  • Diminuir em 30% a emissão de carbono até 2030
  • Diminuir em 40% a geração de resíduos sólidos até 2030
  • Utilizar apenas embalagens retornáveis ou recicláveis até 2025

Social

  • Ter 50% dos postos de liderança ocupados por mulheres e por pessoas negras até 2025
  • Zerar a ocorrência de acidentes de trabalho até 2025
  • Tirar 200 mil pessoas da linha da pobreza nas zonas de influência da empresa até 2025

Governança

  • Ter 100% das pessoas em cargos de liderança treinados em temáticas anticorrupção até o fim do ano
  • Definir o procedimento a ser adotado em casos de conflito de interesse até o fim do ano
  • Estabelecer a política antitruste da companhia até o fim do ano

Agenda 2030 e as metas

Um bom ponto de partida para o estabelecimento de metas, além da matriz de materialidade, é a Agenda 2030 da ONU

A Agenda 2030 estabelece 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Cada um destes objetivos têm metas que precisam ser alcançadas para que o objetivo seja concluído. As metas levam em conta dimensões econômica, social e ambiental.

A agenda 2030 da ONU: 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Passo 3: Envolva todos os departamentos da companhia, incluindo a alta hierarquia

Uma vez que a materialidade esteja resolvida, chegamos no passo em que muitas estratégias de ESG naufragam: a implementação.

Por isso, te recomendo dois cuidados importantes:

  1. Defina quem será responsável pela implementação da estratégia de ESG na empresa. O recomendado é que exista um comitê de sustentabilidade, ativo e diverso, com mandato de implementar as estratégias e atingir as metas.
  2. Crie metas para todas as áreas, sendo estas metas relacionadas com a estratégia central da empresa. A estratégia de ESG não deve ser um mundo à parte sobre o qual só se ouve falar de tempos em tempos. Pelo contrário. Há empresas, inclusive, que atrelam os bônus ao alcance de metas ESG. É uma forma clara e objetiva de comunicar para todas as pessoas que ESG é um tema central.

Passo 4: Utilize métricas para a avaliação do resultado obtido e elabore relatórios de sustentabilidade

Uma das inegáveis barreiras para o desenvolvimento da agenda ESG no mundo é a falta de métricas padronizadas de avaliação. 

Como potenciais investidores podem ter acesso à execução da estratégia? As informações estarão dispostas de forma fácil?

Métricas ESG

O desenvolvimento de métricas é fundamental para que as políticas de ESG deixem de ser apenas boas ideias no papel e ganhem corpo, combatendo práticas como o greenwashing e o socialwashing

Uma forma possível, embora contestável, de avaliar o desenvolvimento da agenda ESG em uma empresa é por meio de agências de avaliação (rating). Elas usam os dados disponíveis para classificar o desenvolvimento de uma determinada empresa, seguindo critérios padronizados. Algumas dessas agências são a MSCI, Sustainalytics e a Fitch Ratings

Índices de bolsas de valores também podem trazer informações sobre os compromissos ESG de empresas listadas, como é o caso do Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, a bolsa de valores oficial do Brasil.

A crítica a este modelo de rankings é que a implementação de uma estratégia de ESG é muito particular de cada empresa. Pela amplitude da agenda, temas fundamentais para uma podem não ter nenhuma relevância para outra. Assim, como medir com uma mesma régua contextos tão variados?

Produção de relatórios

Por fim, é FUNDAMENTAL produzir relatórios de qualidade e padronizados com o resumo do desenvolvimento da estratégia.

Em um curso sobre ESG, vi um professor sendo enfático ao dizer que, segundo estudos, 80% dos relatórios de sustentabilidade são ruins e insuficientes. 

Isso nos motivou, inclusive, a fazer este post sobre relatórios de sustentabilidade: o que é, exemplos e como fazer.

Não sei se o dado procede nem qual a métrica que apontou esta insuficiência, mas fato é que a enorme maioria dos relatórios que já li não cumpriam o papel de informar.

Ou não traziam dados objetivos ou apresentavam uma quantidade de informações desproporcional ou, ainda, não obedeciam a princípios de relato básicos.

Assim, neste ponto é importante que seu relatório seja curto, apresente apenas o necessário e, principalmente, siga padrões internacionais.

Um dos padrões mais seguidos e aceitos internacionalmente para este tipo de relatório é o da Global Reporting Initiative. Também conhecido como “Relatório GRI”, ele comunica de forma customizada e simplificada como está sendo desenvolvida a agenda ESG na empresa. 

Falamos melhor neste post sobre relatório GRI: o que é, como fazer e como usar na prática.

Como se capacitar em ESG

Imagino que, se você chegou até aqui, tenha interesse em saber como se capacitar em ESG.

Tenho uma notícia ruim e uma boa para você. A ruim é que ainda há pouco material de estudo em português – e o que tem disponível muitas vezes não alcança a profundidade desejada.

A boa é que fiz uma compilação do que existe – incluindo a literatura BEM mais vasta em inglês, para que você possa estudar:

Cursos

Neste item consigo te ajudar bem, pois eu mesmo busquei cursos para fazer.

O curso que fiz foi Gestão ESG: Sustentabilidade e Negócios, do Insper. 

Achei bom. Para mim ficou claro que várias aulas eram “recicladas” de outros cursos – o que mostra como a produção de conhecimento específico em português engatinha. 

Porém, algumas aulas específicas e, principalmente, a amplitude da abordagem, foram muito úteis para que eu pudesse dar um salto de conhecimento.

Outro curso bastante comentado é este de Curta Duração em ESG na Prática da Fundação Getúlio Vargas. Um ponto de atenção é que este parece ter conteúdos mais voltados para a área jurídica.

Certificação

Aqui também consigo falar com certa propriedade. 

A certificação em ESG Investing do CFA Institute foi uma grata surpresa, devido ao material de estudo. 

A longa apostila, que você tem um ano para ler antes da prova, conseguiu sistematizar os conceitos de ESG para mim. E esta sistematização vinha sendo uma dificuldade nas minhas pesquisas.

Muitos dados e gráficos que uso nos textos, inclusive, vêm de lá.

Uma outra certificação que fizemos foi a das normas e padrões GRI para o Relato de Sustentabilidade de acordo com as normas revisadas em 2021, da Bridge3. 

Também é muito boa e tem um caráter mais específico para o entendimento na criação de relatórios de sustentabilidade, desde a parte técnica dos cadernos GRI até o entendimento de uso dos relatórios GRI.

Fontes de artigos

Uma biblioteca que tenho utilizado muito – na verdade ela até me causa certa agonia devido ao tamanho – é a da Fama Investimentos.

A Fama é uma gestora que ja citei em alguns artigos, referência hoje em ESG. Eles montaram uma biblioteca virtual com variados artigos e textos que podem ser consultados a qualquer momento. 

Minha dica, aqui, é entrar lá com algum objetivo. Como disse, tem muito material relevante junto.

Outra ótima fonte de insights é a Harvard Business Review, que traz uma infinidade de artigos. Novamente, a dica é buscar com foco. Uma forma que utilizo muito é botar no google “Harvard Business Review (assunto)”. Normalmente os textos são bem interessantes.

Outras newsletters que seguimos e sempre trazem assuntos relevantes que  compartilhamos por aqui nos nossos textos são:

Podcast

A primeira fonte de informações que fui buscar sobre ESG foram os podcasts. Entre muita coisa duvidosa, encontrei entrevistas do Fabio Alperowitch, da Fama Investimentos, cujo Linkedin, inclusive, também vale a pena.

Ele é muito didático e, por ser investidor e não executivo de empresa, fala de um lugar mais imparcial.

Podcasts de executivos de empresas me ajudaram também, mas compreensivelmente eles se colocam no papel de “defensores” da empresa.

Materiais Norte

Estamos criando aqui um dos grandes repositórios de informações sobre ESG em português. Aproveite nossos materiais.

Temos artigos sobre os pilares ambiental, social e de governança da agenda ESG, sobre investimentos ESG e sobre relatórios.

Também temos um ebook que você consegue baixar, com uma trilha detalhada de implementação desta agenda.

Por fim, ficamos à disposição para projetos customizados, como consultorias, mentorias, palestras ou mesmo cursos específcos para o seu público.

Palavra final

Lembra que, 30 anos atrás, internet era uma opção, não uma obrigação? Naquele contexto, os desenvolvedores eram profissionais requisitados apenas por um nicho. 

Hoje a internet é como a água e desenvolvedores estão em falta.

Acredito que assim será com sustentabilidade no futuro. As crises de clima e de biodiversidade que fatalmente enfrentaremos nos próximos anos levarão a um enrijecimento do ambiente regulatório ligado a ESG, que condicionará o fluxo de capitais.

Neste contexto, empresas precisarão colocar sustentabilidade nas suas estratégias e profissionais do ramo irão para o centro do palco.

Assim, um conselho: se antecipe a essa tendência e comece a se capacitar HOJE. 

Seja você empresário, executivo, investidor ou apenas um amante do tema, este é o tipo de conhecimento que alavancará sua carreira e te colocará em outro patamar.

E, lembre-se, estamos aqui para te assessorar neste processo. Faça contato conosco que teremos prazer em te ajudar nesta jornada pessoal e profissional de ESG!

Se sua empresa quer implementar estratégias sustentáveis, vai precisar entrar a fundo no pilar da Governança Corporativa, o “G” da sigla ESG.

Introdução ao ESG

Antes de falarmos sobre a Governança Corporativa é importante te explicar um pouco mais sobre a sigla ESG, que é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança). Esse termo também é conhecido pelas iniciais ASG (usando as palavras em português).

Esse termo apareceu inicialmente no relatório Who Cares Wins (Quem se Importa Vence), do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nesse contexto, o aspecto da governança envolve assuntos relacionados à conduta corporativa, na composição da diretoria e do conselho, em como se garante a ética e transparência no funcionamento da empresa, no compliance e na solidez financeira da organização.

Ao longo desse artigo eu vou focar na letra G do ESG, que vem da palavra “Governança”. Caso você se interesse pelos outros pilares, já falamos sobre eles nesses artigos abaixo:

A Govenrnaça Corporativa

Quando falamos sobre ESG é comum ver as empresas se preocupando bastante com os 2 primeiros pilares Meio Ambiente (E) e Social (S), mas é impossível pensar na implementação de estratégias sustentáveis sem uma boa governança corporativa.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a governança é um recurso que traduz os princípios e valores de uma organização em ações que possuem um impacto positivo na gestão da empresa.

Na prática, a governança engloba o conjunto de estratégias e ações que são realizadas para fortalecer a cultura da empresa e o controle dos processos internos de forma ética, repeitando normas, leis e evitando práticas desleais e corrupção.

Para chegar nesse patamar desejado de boas práticas, uma palavra que vamos explorar mais é o compliance, que é um conceito advindo da expressão em inglês “to comply with” – que significa estar em conformidade – e representa as ações que as organizações realizam para direcionar suas atividades com base nas regras e leis do setor e região onde atua.

Esse conjunto de ações e regras vão ajudar no alinhamento do interesse da empresa em relação aos seus principais stakeholders (públicos de interesse), que podem englobar gestores, acionistas, investidores, clientes, fornecedores, comunidade do entorno, órgãos do governo e outros.

Mas para entender como chegamos no nosso momento atual e nessa realidade, vale a pena entrar mais a fundo na evolução desses mecanismos de regulação e conformidade.

Evolução da Governança Corporativa

Abaixo te deixo com alguns marcos da história relacionados à Governança Corporativa. Deixa eu começar falando sobre um acontecimento importante nos Estados Unidos:

  • A quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, motivada por fraudes ocasionadas pelo excesso de liberdade em contratos privados, foi um dos marcos iniciais da governança corporativa
  • A partir dessa crise, que afetou o mundo inteiro, foi criada a Securities and Exchange Commission (SEC) nos Estados Unidos, órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil com o objetivo de evitar essas fraudes, fazer cumprir as leis e proteger investidores.
  • Dessa forma, empresas de capital aberto começaram a adotar práticas de governança com o objetivo de proporcionar transparência aos agentes envolvidos na empresa.

Com a evolução dessa preocupação ao longo dos anos, surgiram alguns marcos nos EUA e no mundo:

  • Em 1977 foi fundada a NACD (National Association of Corporate Directors) ou na tradução, Associação Nacional de Diretores Executivos
  • Já em 1992 é publicado o The Cadbury Report, um código sobre governança corporativa que serviria como um guia para a alta gestão de corporações no Reino Unido e no mundo (em 1997 “deu lugar” ao The Hempel Report, a primeira revisão desse documento)
  • Desenvolvido a partir de 1998, os princípios da OCDE criaram uma lista de princípios básicos com orientações práticas e sugestões para empresas
  • Em 2001 o colapso da empresa Enron revelou um gigantesco esquema de manipulação de balanços e falhas em auditorias
  • Esses problemas motivaram a criação nos EUA da Lei Sarbanes-Oxley, ou SOx, criada em 2002 para proteger os investidores e stakeholders de empresas contra possíveis fraudes financeiras.
  • Um pouco mais a frente, em 2009, temos a publicação da Norma Técnica ISO 31000 sobre gerenciamento de riscos

No Brasil, é possível notar um fortalecimento da governança a partir da década de 1990, com as privatizações e a promoção da abertura de mercado. 

  • No ano de 1995 acontece a criação do Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA), que passa a se chamar Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em 1999
  • A partir de 2001, as mudanças introduzidas pela Lei 10.303, que tinha objetivo de fortalecer a transparência e a dispersão de acionistas no mercado de capitais, foi importante para a disseminação das práticas de governança corporativa

Segundo o relatório “Risco, Governança Corporativa e Compliance”, da Fortune Business Insights, as atividades ligadas à governança corporativa movimentaram, em 2020, cerca de US$ 27 bilhões no mundo. Para 2028, a estimativa é que esse valor chegue a US$ 75 bilhões.

No entanto, no Brasil, essas medidas ainda estão em estágio inicial. De acordo com a avaliação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a pontuação das empresas de capital fechado sobre a adoção de programas de governança corporativa é, em média, de 34,6 em uma escala até 100.

4 Fundamentos da Governança Corporativa

Se você quer ter sucesso no pilar de Governança do ESG, vale a pena iniciar entendendo um pouco mais dos 4 fundamentos da Governança Corporativa:

  • Transparência – tem relação com a abertura administrativa da empresa para seus stakeholders
  • Equidade – envolve colocar os stakeholders em um mesmo patamar de direitos e responsabilidades
  • Accountability – tem relação com adotar uma política de prestação de contas baseada em documentação clara
  • Responsabilidade – envolve seguir ideais de sustentabilidade e eficiência na operação do negócio

Esses são os 4 pilares que vão servir de guia para a sua organização, mas se você quer realmente gerar impactos, é possível já começar com algumas ações práticas que podem fazer com que a sua governança melhore no curto prazo.

Oportunidades nos Aspectos de Governança

Deixa eu te mostrar algumas dicas iniciais em relação à governança corporativa:

  • Ética – Esse talvez seja o pilar mais importante na atuação em relação à governança, pois ele vai ser um norte para todos os outros. Por isso os gestores da empresa devem praticar o respeito e a empatia com todos os stakeholders envolvidos, criando uma cultura de integridade. Ter um código de ética é o primeiro passo nesse sentido.
  • Prestação de Contas – Para começar a sua empresa pode apresentar de forma clara seus resultados e operação em relatórios. Os principais e mais indicados são o Relatório de Sustentabilidade, que indicamos que seja baseado nas normas e padrões do GRI (Global Reporting Initiative) e o Relatório Financeiro.
  • Transparência com Stakeholders – Um outro aspecto bem importante da governança corporativa é manter um canal direto de comunicação com clientes, fornecedores, colaboradores e outros stakeholders. Criar um canal de ouvidoria e ter pesquisas contínuas de satisfação com esses públicos de interesse é essencial para entender e realizar ações para se manter sempre a frente dos problemas e críticas.
  • Conselho de Administração – A criação de um conselho independente e diverso, que possibilite uma análise crítica do funcionamento da empresa e auxílio aos gestores de maneira livre pode gerar bons resultados no médio e longo prazo.
  • Compliance e LGPD – É essencial estar de acordo com a legislação trabalhista, normas e regulamentos do seu setor de atividade, normas fiscais e contábeis, além de ter certificações que chancelem o bom funcionamento da empresa

Se sua empresa realmente se envolver nessas ações, existem inúmeros benefícios e impactos positivos que podem ser gerados como:

  • Evitar conflitos e casos de corrupção
  • Minimizar fraudes e atos ilícitos
  • Melhorar o gerenciamento de riscos
  • Valorizar a imagem da marca
  • Atrair investidores e aumentar o valor da empresa

Exemplos de Ações que se enquadram no G do ESG

Deixa eu te mostrar agora alguns exemplos práticos que podem te fazer entender alguns dos caminhos que você pode seguir na sua empresa. Para isso, vou entrar nas estratégias voltadas para o aspecto da governança corporativa em dois relatórios de sustentabilidade:

1 – Grupo Fleury

O Grupo Fleury é uma empresa de saúde brasileira fundada em 1926, cuja principal atividade é a prestação de serviços médicos e medicina diagnóstica.

O seu Relatório de Sustentabilidade 2021 tem uma seção inteira de ações e estratégias voltadas para a Governança Corporativa.

Relatório de Sustentabilidade do Grupo Fleury: Seção sobre Governança e Gestão de Riscos

Algumas das estratégias relacionadas à governança corporativa que eles se propõem a fazer são:

  • Gestão da empresa realizada por um Conselho de Administração e por uma Diretoria Executiva
  • Avaliação anual do Conselho de Administração seguindo as recomendações do IBCG
  • Criação de comitês para assessoramento do Conselho:
    • Auditoria, finanças, riscos e Integridade 
    • Cultura e pessoas
    • Transformação
    • ESG (criado em 2021)
  • Adesão ao Movimento Transparência 100% do Pacto Global

Abaixo você pode ver o detalhamento das atribuições de cada um dos comitês de assessoramento e os dados relacionados à diversidade da Diretoria Executiva:

Ações de Governança propostas pelo Grupo Fleury em 2021

2 – Natura

A Natura é uma empresa brasileira que atua no setor de produtos cosméticos. Fundada em 1969 por Antônio Luiz Seabra, hoje está presente no Brasil e em diversos outros países.

Aqui você encontra o relatório de sustentabilidade integrado deles e pode ver que eles tem uma seção interira para 

  • Governança Corporativa
  • Compliance
  • Gestão de Riscos
Natura - Sumário do Relatório de Sustentabilidade Integrado

As principais estratégias e ações dessa parte do relatório integrado deles foram:

  • Composição do conselho de administração contar com 70% de conselheiros independentes
  • Conquista do Selo Pró Ética da CGU (Controladoria Geral da União) em 2021
  • Modelagem inovadora do IP&L (Integrated Profit and Loss)
  • Processo de asseguração externa de auditoria de seus relatos conduzido pela PwC (PricewaterhouseCoopers)

Abaixo te deixo com o detalhamento do perfil de composição do Conselho de Administração deles, que como você vai perceber, poderia ser mais diverso. Em uma rápida análise vemos apenas 7,7% de negros e uma participação de apenas 30% de mulheres.

Natura - Relatório de Governança - Composição do Conselho de Administração

Sinergia entre o G do ESG e os ODS

Além das ações mais diretas listadas acima, caso você esteja implementando estratégias focadas nos aspectos de governança do ESG, pode fazer sentido ter um alinhamento desse planejamento com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) mais relevantes (materiais) para o seu negócio.

Um dos primeiros passos que você pode seguir é da criação de uma matriz de materialidade. Assim, a sua organização pode ter mais noção dos tópicos ESG que devem ser alcançados e quais ODS tem relação com eles.

17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)

Os ODS que mais tem sinergia com ações voltadas para os aspectos de governança são:

  • ODS 5 – Igualdade de Gênero
  • ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico
  • ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura
  • ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis
  • ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes
  • ODS 17 – Parcerias e Meios de Implementação

Para ficar mais prático, deixa eu te mostrar um exemplo. Em uma das iniciativas que sou sócio, utilizamos a captação de leads (contatos de e-mails) como motor de vendas. Uma das nossas preocupações (e de qualquer empresa que armazene dados de clientes) é com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Se a gente fosse traçar estratégias pautadas nos ODS, provavelmente os ODS 9 e ODS 16 seriam os mais relevantes para a criação dessas ações.

Referências no tema Governança

Existe diversas referências sobre o assunto, mas talvez um dos mais importantes é o livro Governança Corporativa e Integridade Empresarial, do IBCG. Ele é dedicado a gestores, conselheiros, investidores, auditores, consultores e profissionais que levam em consideração a lisura e a ética.

Uma outra boa leitura é o livro Compliance que traz uma visão geral com aplicações setoriais diversas de compliance e foi produzido por mestrandos da Ambra sob a organização de Éderson Porto.Para fechar as dicas, vale a pena acompanhar os eventos e artigos do IBCG – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Se sua empresa quer implementar estratégias sustentáveis, vai precisar entrar a fundo no aspecto Social – o “S” da sigla ESG.

Introdução ao ESG

Antes de entrarmos no aspecto social, vale a pena conhecer mais da sigla ESG, que é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança)

Por ser relativamente novo, o acrônimo ainda é chamado de diferentes formas aqui no Brasil, não sendo tão incomum ver o uso da sigla ASG (trocando o “E” de “Environmental” por “A” de “Ambiental”).

Essa sigla apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Who Cares Wins (Quem se Importa Vence, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial e rapidamente foi adotado pelo mercado financeiro para a avaliação de empresas baseada em práticas ambientais, sociais e de governança.

O pilar “social”

Nesse contexto, o aspecto social envolve toda gama de assuntos da empresa relacionados à sociedade. Parece amplo, não é? De certa forma, é mesmo.

Quando falamos aqui em “social” vamos desde ações com colaboradores e pessoas mais intimamente ligadas ao dia a dia da empresa até a comunidade do entorno, fornecedores, consumidores, etc. 

Antes de dar mais exemplos, vamos falar um pouco mais sobre a história da relação de empresas com o social.

Ah… e um lembrete: caso se interesse pelos outros pilares do ESG, o E e o G, você pode ver mais deles aqui:

Breve Histórico da Evolução da Responsabilidade Social

Você já ouviu falar em responsabilidade social empresarial? E em investimento social privado? Eles são, de certa forma, alguns dos antepassados do S do ESG. Por isso, vamos detalhar esses conceitos.

Responsabilidade social empresarial (RSE)

Hoje, praticamente qualquer executivo já ouviu falar em Responsabilidade Social Empresarial. É o seu caso?

Cinquenta anos atrás, praticamente ninguém conhecia o termo. “Responsabilidade social” surgiu apenas na década de 50, em artigos na Europa e nos EUA.

Assustados com o tamanho das grandes corporações no pós-guerra – e, consequentemente, com seu potencial impacto na sociedade – alguns estudos começaram a falar sobre novas responsabilidades destas empresas.

A elas caberia, segundo esta nova linha, executar ações voltadas para gerar um impacto positivo na sociedade, mesmo que não contribuíssem diretamente para seus lucros. Alguns exemplos simples seriam apoio à educação e à saúde das comunidades dos seus entornos. 

O termo desembarcou com mais força no Brasil na década de 90, junto com a expansão do terceiro setor. Data desta época, por exemplo, o GIFE, que reúne institutos, fundações e empresas em torno da filantropia.

Um ponto curioso deste “desembarque” no Brasil é que, devido à situação social do país, a responsabilidade social ficou muito associada a ações voltadas para pessoas em situação de alta vulnerabilidade social (como distribuições de cestas básicas ou brinquedos no natal, por exemplo).

Responsabilidade social, entretanto, bem como o S do ESG, diz respeito a uma atuação social em sentido amplo, não apenas ações voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Investimento social privado (ISP)

Uma das formas de uma empresa aderir à agenda de responsabilidade social é doando recursos financeiros para iniciativas sociais.

Com o aprofundamento destas práticas, muitas empresas passaram a fazer repasses de forma cada vez mais recorrente e madura. 

Neste contexto, surgiu o conceito de Investimento Social Privado (ISP), ou seja, o repasse de recursos privados para causas sociais de forma planejada, monitorada e sistemática – tal qual investimentos tradicionais.

A diferença desta prática para a filantropia ou a caridade tradicionais é que ela precisa necessariamente ser estruturada e metrificada. Isso passa, por exemplo, por mensuração de impacto e planejamento detalhado.

Exemplos de Ações que se enquadram no S do ESG

Agora que já entendemos o histórico do “S” nas empresas, vamos avançar um pouco e delimitar exatamente sobre o que estamos falando.

Na verdade, talvez NÃO TÃO exatamente. O aspecto social, como você deve imaginar e como já falamos, é bastante amplo. 

Porém, vou dar aqui exemplos bem concretos para tornar mais tangível este “social”:

1 – Diversidade Racial

Quando falamos em diversidade racial, queremos dizer que grupos historicamente minorizados, como negros e pardos, devem ter representatividade em todas as esferas de uma empresa – refletindo a sociedade.

Como, historicamente, estes grupos têm menos acesso a políticas públicas, podem ser necessárias ações afirmativas voltadas especificamente para equacionar distorções. 

Um exemplo vem do varejo. Em 2020, a Magazine Luiza abriu um processo seletivo para trainees exclusivo para pessoas negras. A ideia partiu de uma pesquisa na qual a empresa constatou que apenas 21% dos seus líderes da área administrativa se declaravam negros. O baixo percentual chamou a atenção, pois 51% da empresa se declarava negra. 

Ação Social: Programa de Diversidade Racial da Magazine Luiza

A ação foi bastante contestada por alguns grupos, mas a contestação não foi suficiente para frear o ímpeto da empresa de alcançar 56% de líderes negros (mesmo percentual de negros da população brasileira). Em 2021, a empresa lançou novamente este processo de treinees.

2 – Igualdade de gênero

Você já deve ter ouvido que muitas vezes homens e mulheres exercendo a mesma função recebem remunerações diferentes. Pois bem, esse é um caso flagrante de desigualdade de gênero.

Igualdade de gênero é garantir tratamento e oportunidades iguais a homens e mulheres no ambiente empresarial.

Se o conceito pode parecer óbvio, ele ainda está longe de ser uma realidade. Quer um exemplo? Segundo a jornalista Ana Addobbati, em 2018 havia mais CEOs chamados John do que do sexo feminino nas grandes empresas americanas.

Quando falamos neste assunto, é difícil não pensar na Natura. Ano após ano a empresa é apontada como uma das mais sustentáveis no Brasil.

No campo da igualdade de gênero, ela assumiu o compromisso de ter a alta liderança formada 50% por mulheres até 2030. Em prazo ainda mais curto, quer eliminar todas as discrepâncias salariais entre pessoas de gêneros distintos que realizam a mesma função.

3 – Promoção de saúde mental

Você provavelmente conhece alguém que trabalha no meio corporativo e que teve algum problema mental, certo? Pode ser um caso de depressão ou burnout, por exemplo.

Isso está longe de ser uma raridade. Somente entre 2019 e 2020 o número de afastamentos por doenças mentais cresceu 26% no mundo.

Como este panorama gera uma série de questões humanas e financeiras para as empresas, há um movimento crescente de investimento em ações de promoção da saúde mental.

O Grupo Votorantim é um exemplo. Em 2020 a empresa já oferecia 20 sessões de terapia ao longo do ano, yoga e mindfullness semanais. Durante a pandemia, reduziu a carga horária para meio período em alguns meses.

Campanha social da Votorantim: Como manter a saúde mental na quarentena?

4 – Desenvolvimento das comunidades do entorno

Uma outra forma das empresas impactarem positivamente a sociedade é por meio do fomento a ações que promovam o desenvolvimento de comunidades próximas.

O Credit-Suisse, por exemplo, é uma empresa tradicional do mercado financeiro. Desde 2003 ela conta com um instituto que envia recursos de forma sistemática e planejada para organizações sociais que tenham comprovado impacto na educação brasileira.

Em 2022 o instituto se uniu a outras empresas do mercado financeiro para expandir esta atuação – mudando seu nome para Ambikira.

Ação social do Credit-Suisse: mudança de nome do Instituto

Riscos e Oportunidades no Aspecto Social

Há muitas razões para que sua empresa coloque o pilar social como ponto central da estratégia.

Abaixo vou listar algumas que vão desde questões bem práticas a outras um pouco mais subjetivas. 

Diminuir o turnover

Segundo pesquisas, a maioria dos jovens abaixo de 34 anos, os chamados Millennials e a geração Z, procuram por um trabalho com propósito. Apenas uma boa remuneração ou a promessa de grandes bônus no fim do ano não são mais suficientes para reter um talento por longo tempo.

Uma das formas de mostrar para os colaboradores que sua empresa tem uma preocupação além dos lucros é investindo no pilar social.

Um programa de inclusão, por exemplo, é uma forma de mostrar que sua empresa abraça a diversidade. Em um caminho oposto, não se preocupar com saúde mental, por exemplo, pode sugerir que não há efetiva preocupação com as pessoas que lá estão trabalhando.

Maior acesso a mercado consumidor

Pesquisas recentes vêm mostrando que os millennials (nascidos entre 1982 e 1996) e a geração Z (nascidos de 1996 e 2010) têm hábitos de consumo mais complexos que seus pais. Enquanto os pais avaliavam pouco mais que preço e qualidade, os millennials tendem a pesar também critérios mais subjetivos.

O estudo Generation Z And Consumer Trends In Environmental Packaging, aponta que 70% dos membros das gerações Y e Z gostam mais de produtos alinhados com suas crenças pessoais.

Nesta mesma linha, cerca de 66% dos consumidores da geração Z  preferem produtos com propósito a marcas de luxo ou designs exclusivos.

Isso quer dizer que uma empresa que implemente práticas sustentáveis de forma efetiva tende a ser mais bem vista por estes públicos. Ignorar o cuidado com a sociedade, assim, pode custar caro.

Devolução para a sociedade

Considerando que já fui pragmático na apresentação de motivações para ter um pilar social robusto na sua empresa, vou ser agora mais subjetivo.

Alguns empresários defendem que seu papel social está completo quando mantém a empresa em bom funcionamento, pagando bons salários e benefícios interessantes.

Seria isso verdade? Em partes, com certeza. Para um jovem de uma família de baixa renda, um emprego de salário mínimo pode melhorar substancialmente a vida dos seus parentes.

Por outro lado, vivemos num país dramaticamente desigual no qual – infelizmente – o cumprimento das legislações não garante dignidade.

Assim, acredito que as empresas, quando puderem, devem ter preocupações sociais mais profundas independentemente de benefícios para o negócio. Preocupações derivadas de um entendimento desta complexa situação brasileira. Preocupações que não necessariamente retornem para si.

Um exemplo de empresa que age assim é a FESA Group, na qual já realizei um pequeno projeto. O “salário mínimo” da empresa foi reajustado para um patamar acima do salário mínimo legal. Segundo a corporação, este era o mínimo valor justo necessário para garantir dignidade às famílias dos colaboradores.

Uma preocupação que vai além das buscas de contrapartidas ou das determinações legais!

Últimas palavras: ODSs, materialidade e próximos passos

Talvez você tenha chegado até aqui e concluído que sua empresa já faz muita coisa no pilar social – apenas não está estruturado com nome de ESG.

Talvez seja o caso oposto: acha que a sua empresa ainda não faz quase nada.

Em qualquer dos casos, eu te diria a mesma coisa: implementar um pilar social consistente na sua empresa não é apenas “fazer”. Há passos que precisam ser dados antes.

A materialidade

Com uma agenda tão ampla quanto a social, por onde começar? Igualdade de gênero? Primeiro emprego? Combate à fome?

É muito normal que você não saiba responder a essas perguntas. Na verdade, você nem deve respondê-las. Isso cabe aos seus stakeholders.

O primeiro passo para uma estratégia bem sucedida de ESG é entender quais são os temas materiais (relevantes) para sua empresa. Quem vai dar esta resposta são os stakeholders, que devem responder a uma entrevista voltada para diagnosticar o que eles consideram prioritário.

O resultado das entrevistas mostrará quais são os temas materiais, para os quais devem ser desenvolvidas estratégias com temporalidade e meta.

Matriz de Materialidade do ESG

Acima um exemplo de temas materiais de uma empresa. “Segurança e compromisso com a vida” é um tema material claramente ligado ao pilar social. A empresa deve desdobra-lo em estratégias, metas e planos de ação.

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs)

Você reparou que na imagem acima tem uns quadrados coloridos com números? Eles são outro ponto fundamental da implementação d eum pilar “S” robusto: os ODSs.

ODSs são 17 objetivos criados pela ONU para a promoção de um mundo mais sustentável até 2030. É, em resumo, um conjunto de metas que, se cumpridas, nos levarão a um mundo bem melhor.

Estes abaixo são todos os ODSs:

17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)

Observando a imagem acima, podemos concluir que os ODSs que mais têm sinergia com ações voltadas para os aspectos sociais são:

  • ODS 1 – Erradicar a pobreza
  • ODS 2 – Acabar com a fome
  • ODS 3 – Vida saudável
  • ODS 4 – Educação de qualidade
  • ODS 5 – Igualdade de gênero
  • ODS 7 – Energias renováveis
  • ODS 8 – Trabalho digno e crescimento econômico
  • ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis
  • ODS 16 – Paz e Justiça

Voltando ao exemplo de tema material “Segurança e compromisso com a vida”, ele faz referência aos ODSs 3 e 8 – o que conirma que ele é, prioritariamente, um tema material liga

Próximos passos

Ufa! Foi um longo caminho para chegar até aqui.

O pilar social dos ODSs diz respeito a ações tão amplas quanto o cuidado com a saúde mental dos colaboradores e as doações para as comunidades do entorno.

Devido a essa amplitude, é bem normal que você não saiba por onde começar – seja para “organizar a casa”, seja para fazer do zero.

Por isso, se você quiser implementar um pilar social robusto na sua empresa, baseado em temas materiais e ODSs, conte conosco.

Teremos muito prazer em fazer uma imersão para diagnosticar o que seus stakeholders consideram mais interessante e depois construir junto com você e implementar uma estratégia de sustentabilidade baseada nas melhores práticas de mercado!

Se sua empresa quer implementar estratégias sustentáveis, vai precisar entrar a fundo no aspecto Ambiental – o “E” da sigla ESG.

Introdução ao ESG

Antes de entrarmos no aspecto ambiental, vale a pena conhecer mais da sigla ESG, que é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança)

Por ser relativamente novo, o acrônimo ainda é chamado de diferentes formas aqui no Brasil, não sendo tão incomum ver o uso da sigla ASG (trocando o “E” de “Environmental” por “A” de “Ambiental”).

Essa sigla apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Who Cares Wins (Quem se Importa Vence), do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial e rapidamente foi adotado pelo mercado financeiro para a avaliação de empresas baseada em práticas ambientais, sociais e de governança.

Nesse contexto, o aspecto ambiental (ou Environmental, em inglês) envolve toda gama de assuntos relacionados ao meio ambiente e leva em conta o uso dos recursos naturais de uma empresa e o efeito de suas atividades no meio ambiente – tanto para o seu funcionamento direto como para suas cadeias de suprimentos. 

Isso envolve desde a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e do uso de energias renováveis até a gestão de resíduos e o cálculo da pegada de carbono.

Caso você se interesse pelos outros pilares, o S (Social) e o G (Governança), você pode ver mais deles aqui:

Breve Histórico da Evolução da Sustentabilidade Ambiental

Se você se interesse pelo aspecto ambiental, vale a pena entender que essa é uma batalha contínua que se iniciou há muitas décadas atrás e vem ganhando força a cada ano que se passa por meio de alguns eventos importantes.

Abaixo te deixo com uma breve cronologia sobre os momentos mais marcantes da sustentabilidade que culminaram na sigla ESG:

  • Conferência de Estocolmo, de 1972, foi um marco inicial com discussões sobre ecodesenvolvimento e redução de degradação ambiental;
  • Depois, em 1987, o Relatório de Bruntland (que é um documento intitulado Nosso Futuro Comum) definiu o conceito de desenvolvimento sustentável;
  • Tivemos em 1992 a Eco-92, conferência das nações unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, que produziu a Agenda 21;
  • Já em 1994, o termo triple bottom line (ambiental, social e econômico), o tripé da sustentabilidade, foi criado por John Elkington
  • Em seguida tivemos o protocolo de Kyoto, um tratado internacional com compromissos para a redução da emissão de gases de efeito estufa, aprovado na Rio+5, em Nova York no ano de 1997 ;
  • No ano de 2004 foi criado o relatório “Who Cares Wins” (citado acima), unindo empresas de investimento com a sustentabilidade;
  • E mais recentemente em 2015 tivemos a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, onde foi aprovada a agenda 2030 e os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

Todos esses eventos e momentos vêm criando uma pressão crescente voltada para empresas terem uma preocupação maior com o aspecto ambiental.

Riscos e Oportunidades no Aspecto Ambiental

Só para você ter uma ideia, organizações que não se preocupam com os efeitos de suas práticas no meio ambiente estão mais suscetíveis a um maior risco financeiro, já que se infringirem normas ou regulações ambientais podem ter que pagar multas, enfrentar punições regulatórias, além de processos criminais e danos à reputação. 

Além disso, já temos visto o impacto que as mudanças climáticas estão exercendo no planeta. Nos últimos anos temos visto um aumento da frequência de eventos climáticos extremos como secas, inundações, incêndios e ondas de calor que provavelmente vai afetar a cadeia produtiva da sua empresa de alguma forma.

Por isso, se você está pensando em considerar os aspectos ambientais na estratégia do seu negócio eu tenho algumas dicas interessantes.

Vale lembrar que cada empresa e setor de mercado tem características e oportunidades específicas. Abaixo são só alguns exemplos que podem se adequar mais ou menos ao seu caso.

  • Emissões de GEE – Para começar, sua empresa pode fazer um inventário das emissões de gases de efeito estufa. A partir daí é possível reduzir as emissões com a substituição de equipamentos pouco eficientes por outros que tenham selo A da Procel. Para empresas que tenham frota, a substituição de veículos que usam combustíveis fósseis por elétricos é um caminho. Se você atua em uma indústria, existem filtros que podem reduzir em até 90% as emissões.
  • Eficiência Energética – O básico envolve utilizar lâmpadas de LED no lugar de lâmpadas incandescentes e temporizadores ou sensores para determinar períodos em que a iluminação não é necessária. O uso de energia solar tem se tornado uma realidade para diversas empresas (o uso programa Ticket Verde da Finehra é um exemplo).
  • Gestão de resíduos – Para não ter problemas, comece compreendendo as leis e regras que se aplicam aos resíduos que a sua empresa gera (um bom lugar para começar é analisando as normas NBR 10.004 da ABNT). Depois de ter essa consciência, avance para o mapeamento dos resíduos gerados e desenvolvimento de um plano de gestão de resíduos sólidos.
  • Eficiência Hídrica – Monitore o uso de água, troque válvulas de descarga, verifique/conserte vazamentos e coloque temporizadores em pias. Num stágio mais avançado, é possível pensar em sistemas de reutilização de águas residuais e de aproveitamento de água da chuva.

Quais as diferenças entre a preocupação ambiental e o pilar dentro do ESG

Muitas empresas acreditam que estão atendendo aos aspectos ambientais dentro do pilar ESG por simplesmente fazerem ações pontuais de mobilização de colaboradores para plantar árvores ou fazer coleta seletiva de lixo.

A verdade é que ter uma preocupação mínima com o meio ambiente não significa necessariamente que a sua empresa está adotando estratégias sustentáveis dentro do aspecto ambiental.

Se você quer realmente tomar ações e medidas sustentáveis dentro do aspecto ambiental precisa alinhar os produtos ou serviços, estratégias da empresa e funcionamento como um todo com a agenda ESG.

Exemplos de Ações que se enquadram no E do ESG

Deixa eu te mostrar agora alguns exemplos práticos que podem te fazer entender alguns dos caminhos que você pode seguir na sua empresa. Para isso, vou entrar nas estratégias voltadas para o aspecto ambiental em dois relatórios de sustentabilidade:

1 – Ambev

A Ambev é a maior fabricante de cervejas do mundo e o seu Relatório de Sustentabilidade 2021 tem uma seção inteira de ações e estratégias voltadas para o planeta (exatamente com essa descrição, como você pode ver abaixo).

Relatório de Sustentabilidade 2021 da Ambev

Faz muito sentido essa preocupação quando pensamos que a Ambev é uma empresa que precisa da água para fabricar o seu produto final (bebidas). Veja um trecho do relatório onde eles ressaltam essa importância:

“Não existe vida, e muito menos cerveja, sem água. Cuidamos desse bem tão precioso dentro e fora dos muros da Ambev. Internamente, trabalhamos há mais de 20 anos com uma gestão pautada pela redução do consumo em nossas unidades fabris, pela preservação de bacias hidrográficas e pelo acesso à água potável.” 

Relatório de Sustentabilidade da Ambev

Algumas das estratégias que eles se propõem a fazer são:

  • Ações de restauração e conservação do solo em mananciais e bacias hidrográficas, inclusive fomentando o PSA (Pagamento por Serviços Ambientais)
  • Recuperação e reutilização de água com a construção de estações de reuso usando tecnologia de ponta com redução média de 55% do consumo nos últimos 19 anos
  • Criação do negócio social AMA que leva água potável para comunidades do semi árido e periferias do Brasil
  • Foco na descarbonização com meta de 100% da eletricidade ser proveninente de energias renováveis até 2030

Veja o roadmap da descarbonização da Ambev:

Preocupação Ambiental: o roadmap de descarbonização da Ambev

2 – Grupo Hero Brasil

O Grupo Hero Brasil é uma empresa que comercializa produtos nas categorias de geleias, snacks saudáveis e alimentos diversos e no seu Relatório de Sustentabilidade 2020 conseguimos ver uma boa preocupação com o aspecto ambiental:

Relatório de Sustentabilidade 2020 do Grupo Hero Brasil

Algumas das estratégias que eles se propõe a fazer são:

  • Migração para o mercado livre de energia com meta de redução de 20% da geração de CO2
  • Implementação de uma ETA (Estação de Tratamento de Água) para reutilização da água
  • Foco no desenvolvimento de fornecedores locais com meta de 50% do volume comprado ser produtores nacionais
  • Criação do projeto “cultivating” para capacitação de fornecedores que precisam de ajuda para se enquadrar nas normas e documentações necessárias

Veja as ações de reciclagem e gestão de resíduos da Hero:

Preocupação Ambiental: Ações de reciclagem e gestão de resíduos da Hero Brasil

Sinergia entre o E do ESG e os ODS

Se você já está começando a implementar estratégias focadas nos aspectos ambientais do ESG, pode se interessar por alinhar essas ações aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) mais relevantes (materiais) para o seu negócio.

17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)

Veja um exemplo de como a Petrobras alinha os temas mais relevantes para a organização como um todo para os principais ODS. Veja que temas como a resiliência climática envolve os ODS 7 e ODS 13:

Como a Petrobras alinha os ODS a sua estratégia de sustentabilidade

Então se você quer ter um direcionamento alinhado com a Agenda 2030, o primeiro passo que aconselhamos é o desenvolvimento de uma avaliação de materialidade. 

Dessa forma, sua empresa terá o conhecimento de quais tópicos ESG fazem sentido para ela e, a partir daí, fica mais fácil ver quais ODSs são mais relevantes.

De maneira geral, os ODS que mais têm sinergia com ações voltadas para os aspectos ambientais são:

  • ODS 6 – Água Potável e Saneamento
  • ODS 7 – Energia Limpa e Acessível
  • ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura
  • ODS 13 – Ação contra a Mudança Global do Clima
  • ODS 14 – Vida na Água
  • ODS 15 – Vida Terrestre

Só para te dar mais um exemplo: sou conselheiro fiscal de uma ONG chamada Mar Adentro, que tem como propósito preservar o ecossistema marinho. Caso a gente traçasse estratégias pautadas nos ODS, com certeza os ODSs 14 e 6 seriam os mais relevantes para focarmos ações.

Como mensurar os aspectos ambientais

Se você começou a focar esforços nos aspectos ambientais e criou estratégias pautadas nos ODS, você está no caminho certo! Porém, o planejamento é só o início.

Você deve, a seguir, determinar pelo menos um indicador para cada estratégia. Sem indicadores é impossível saber se a implementação está tendo resultados efetivos ou se segue sendo só uma boa intenção. 

Um dos caminhos aqui é tomar como base a lista com indicadores separados em 3 níveis que a ONU desenvolveu para acompanhamento dos ODS ou pensar em outros indicadores que, quando medidos corretamente, vão te levar a entender se está mandando bem ou não. Veja alguns exemplos:

  • Resíduos gerados (em toneladas ou m3)
  • Emissão de GEE por unidade de produto produzido

Referências no tema Ambiental

O livro que eu mais gostei de ler recentemente sobre o assunto é Como evitar um desastre climático do Bill Gates. Ele explora formas diferentes de zerarmos as emissões de GEE até 2100. Segundo ele, essa é uma das poucas formas que pode fazer com que evitemos um desastre de proporções catastróficas no nosso futuro próximo.

Uma outra boa leitura que mostra a importância de líderes empresariais se posicionarem logo em temas ambientais é o livro A Sexta Extinção, da Elizabeth Kolbert. É impressionante quando nos damos conta que já estamos no meio de um extinção em massa de espécies.Para fechar as dicas, acompanhe a Agenda 2030 e entenda a fundo os temas mais relevantes mundialmente que podem impactar o seu negócio.

ESG é um conceito que surge da ideia de que empresas têm um papel significativo na construção de um mundo sustentável. 

Diversos fatores contribuíram para esta tomada de consciência, tais como a ocorrência frequente de eventos climáticos extremos, a expansão de cadeias de valor globais e o aumento da capacidade das empresas de influenciar o contexto em que operam.

Triple Botton Line

A partir disso, surge nos anos 90 o conceito de Triple Botton Line, que prega uma gestão empresarial com foco na sustentabilidade de forma ampla, considerando aspectos sociais, ambientais e econômicos. Isso quer dizer que o resultado financeiro positivo deve ser acompanhado de uma relação saudável com os recursos naturais e sociais.

Mais recentemente, o tema começou a fazer parte da agenda de investidores e acionistas, que incluíram assuntos relacionados à governança corporativa na dimensão econômica do tripé. Transparência, direitos de acionistas minoritários e compliance entram para pauta – que ao invés de “econômica” passa a ser chamada de “governança”.

O surgimento do termo “ESG”

É neste contexto que surge o conceito de ESG, junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança). A sigla apareceu pela primeira vez em 2004, no relatório Quem se importa vence: conectando mercados financeiros a um mundo em mudança, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com o Banco Mundial. 

Segundo o estudo, empresas que têm um desempenho melhor em critérios ESG agregam mais valor aos seus acionistas e são mais competitivas em um mercado global, já que gerenciam melhor seus riscos e antecipam ações regulatórias. Também contribuem para o desenvolvimento sustentável dos lugares em que operam e para a resiliência do mercado financeiro como um todo.

E, S e G: o que cada letra quer dizer?

Aqui vou explicar com um pouco mais de detalhes e exemplos qual significado de cada uma das letras do acrônimo “ESG”. Você pode saber mais sobre eles nos artigos abaixo:

Environmental (Ambiental)

No pilar ambiental, espera-se que empresas levem em conta os impactos que suas operações têm sobre o meio ambiente, adotando medidas para minimizar impactos negativos futuros e reparar impactos negativos que já tenham sido causados. 

Uma indústria que funciona perto de um rio, por exemplo, deve buscar ao máximo preservá-lo. Se houver alguma poluição, é necessário que se dedique imediatamente a limpá-lo.

Social

Dentro das práticas sociais, empresas devem olhar para os impactos sobre os direitos de seus empregados, colaboradores e comunidade no entorno

Isso inclui observar políticas de diversidade, o combate ao trabalho análogo ao escravo e trabalho infantil, pagamento justo aos colaboradores, instituição de políticas de combate ao assédio, escuta às comunidades locais, entre outros. 

A respeito da diversidade, estudos revelam, inclusive, que essas práticas podem ter uma relação direta com a boa performance financeira de uma empresa. 

Governança

Tradicionalmente, governança corporativa é o sistema pelo qual empresas são dirigidas e monitoradas.

O G de “ESG”, portanto, busca avaliar se este sistema de gestão e monitoramento está em conformidade com as melhores práticas e atingindo suas finalidades.

Aqui eu poderia citar: políticas de transparência e acesso à informação, independência do conselho de gestão da empresa, existência de regras claras sobre ética corporativa, uma estrutura empresarial adequada, entre outros.

Por que me preocupar com ESG?

Há diversos motivos para que sua empresa priorize a agenda ESG.

Já adianto que eles vão bem além de “fazer um mundo melhor” ou “preservar a natureza”. Quando falamos em ESG falamos sobre o core da estratégia da empresa. Falamos sobre garantir a ela resiliência e longevidade.

Melhorar resultados financeiros

O primeiro motivo para se preocupar com ESG é claro e bem tangível: empresas com um melhor desempenho em critérios ESG apresentam também um melhor resultado financeiro no longo prazo, além de uma menor volatilidade no seu valor de mercado. Por isso, em breve, toda decisão de investimentos levará em conta critérios ESG.

Segundo a Bloomberg, até 2025, cerca de 1/3 dos ativos sob gestão serão ativos ESG, superando a marca de U$ 53 trilhões. 

Na Europa, a proporção será ainda maior. Segundo a PwC, uma das maiores empresas de auditoria do mundo, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os critérios ESG, o que representa US$ 8,9 trilhões, em relação a 15,1% de 2019.

A tendência é que isso se intensifique em todo o mundo e, em um futuro não muito distante, apenas empresas que incorporem critérios ESG às suas práticas terão acesso substancial a investimentos.

Acesso a mercado consumidor

Uma pesquisa da KPMG aponta que um a cada quatro consumidores considera fatores relacionados a ESG no momento da sua decisão de compra, sendo que esse número vem crescendo em relação a pesquisas anteriores. A pesquisa também aponta que, no Brasil, a consciência social das marcas é mais valorizada pelo público consumidor do que em outros países.

Não à toa, dados da B3 mostram que investimentos em ativos ESG tiveram uma melhor performance financeira e uma menor volatilidade. 

ISE (Ativos ESG) x Bovespa - gráfico com evolução ao longo do tempo
ISE (Ativos ESG) x Bovespa – gráfico com evolução ao longo do tempo

Quem está cobrando o atendimento aos critérios ESG?

Poderia responder à pergunta do título de uma forma bem direta: “Muita gente está cobrando – e cada vez mais gente vai cobrar no futuro”.

Mas vou escrever a seguir sobre dois players bem significativos que vêm aumentando a cobrança de práticas ESG por empresas: mercado financeiro e governos.

BlackRock e o grande impulso ESG no mercado financeiro

Provavelmente você conhece a BlackRock? Ela é a maior gestora de ativos do mundo, com cerca de U$7 trilhões de patrimônio sob gestão.

Em janeiro de 2020, Larry Fink, diretor-presidente da BlackRock, enviou uma carta anual aos executivos da empresa reconhecendo que mudanças climáticas transformarão as finanças globais. 

Afirmou também que a sustentabilidade passaria a ser levada em conta nas decisões da gestora, que, por exemplo, sairia de investimentos de alto risco em termos de sustentabilidade. 

Por que esse foi um marco tão importante? Porque foi a primeira vez que uma gestora deste tamanho endossou de forma tão significativa a agenda ESG.

A cobrança da BlackRock gerou um efeito dominó, que obrigou milhares de outras gestoras e de empresas a investidas a se adaptarem.

Esta onda foi, e vai, crescendo muito. Uma prova disso são dados que trouxe há poucos parágrafos: até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os critérios ESG, que representa US$ 8,9 trilhões, em relação a 15,1% de 2019

Empresas que não se adaptarem à exigência do mercado financeiro vão ver o acesso a capital se estreitar significativamente.

Os governos também estão de olho

Os investidores influenciam o comportamento do mercado a partir dos critérios que adotam para as suas decisões de investimento. Já os governos, influenciam a partir da edição de atos normativos que regulam a conduta de atores privados em relação a questões de ESG.

Na linha da tendência global, o Brasil vem adotando uma série de regras que buscam criar incentivos para a incorporação de critérios ESG pelo setor privado. Algumas delas são:

A Resolução nº 59/2021 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determina que empresas listadas na bolsa devam apresentar informações relacionadas a aspectos ESG, incluindo:

  • Se divulga informações ESG em seu relatório anual;
  • Se o relatório é auditado ou revisado por entidade independente;
  • Se o relatório considera Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU e quais são os ODS materiais para o negócio da empresa;
  • Se a empresa realiza inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), entre outros.

Já a Circular nº 666/2022 da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) estabelece que seguradoras, entidades de previdência complementar, sociedades de capitalização e resseguradoras devam obrigatoriamente adotar instrumentos para a gestão de riscos climáticos, sociais e ambientais. 

Isso quer dizer que essas empresas passarão a levar em conta os riscos de sustentabilidade na hora de fazer sua escolha de investimentos. O histórico de compromisso de um cliente com questões de ESG também pode ser levado em conta no momento da precificação dos riscos pela seguradora.

A Nova Lei de Licitações também estabelece uma série de incentivos para que as empresas que pretendam participar de processos licitatórios e firmar contratos com o Poder Público se adequem a critérios ESG. Entre outras exigências, a lei determina que a existência de políticas ESG pode ser um critério de desempate na seleção de propostas.

Como implementar práticas e políticas ESG na minha empresa?

Fique de olho nesse passo a passo para implementar a agenda ESG na sua empresa. Caso queira nossa assessoria, veja nossos produtos de consultoria!

Passo 1: identifique questões materiais

Você já deve ter reparado que a agenda ESG é bem ampla. Só neste texto já citamos, em diferentes partes, “Diversidade”, “Clima” e “Compliance”. Isso para não falar de assuntos menos conhecidos.

Frente a essa diversidade, como começar?

Simples: PRIORIZANDO.

O primeiro passo para a implementação da agenda ESG na sua empresa é entender quais são os temas materiais, ou seja, relevantes, dentre as dezenas que você poderia abordar.

Você deve identificar quais questões são mais relevantes em determinado contexto operacional (as chamadas questões materiais) e priorizá-las. 

Por ser uma análise de contexto, a materialidade dependede do perfil da empresa

Por exemplo: se sua empresa é uma indústria, é muito provável que questões relacionadas à contaminação ambiental sejam materiais (relevantes). Já se sua empresa é de tecnologia, há muito menos chances de temas ambientais serem materiais (relevantes).

Como identificar a materialidade?

Um ponto muito importante é que a materialidade deve ser analisada a partir da perspectiva de stakeholders internos E externos. Deve incluir acionistas e investidores, clientes, fornecedores, comunidade no entorno, Poder Público e sociedade civil.

Eles devem ser ouvidos por meio de entrevistas. Por serem muitas partes interessadas, é natural que sejam dezenas, até centenas de entrevistados.

Neste tema, a nova diretiva da Comissão Europeia sobre relatórios corporativos reconhece o conceito de “dupla materialidade”, defendendo que a materialidade deve levar em conta os riscos para empresas e investidores, mas também para pessoas e o planeta. 

Produzindo a matriz de materialidade

Identificadas essas questões, é hora de estabelecer prioridades. Para isso, você deve colocar as questões materiais em uma matriz e dar prioridade àquelas que forem mais relevantes ao mesmo tempo para stakeholders internos e externos. Veja abaixo o exemplo da matriz de materialidade da Nestlé:

ESG: Matriz de Materialidade da Nestlé

Aqui um outro exemplo de matriz de materialidade, retirado do relatório de sustentabilidade da TIM. Repare que esta matriz associa diretamente a materialidade aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU (sobre os quais falarei logo mais):

ESG: Exemplo de Matriz de Materialidade da TIM

2. Estabeleça metas concretas

Uma vez identificadas as questões materiais e definidas as prioridades, passa-se à definição de medidas concretas para endereçar essas questões e para comunicar ao público as medidas adotadas.

Nesse ponto, é importante compreender que não é possível listar metas que devam ser observadas por todas as empresas. Como falamos anteriormente, não existe receita de bolo: existem diversas variáveis que interferem na materialidade, tornando cada empresa única – e assim também deve ser a solução a ser adotada por ela.

Ainda assim, podemos dar aqui alguns exemplos:

Environmental (ambiental)

  • Diminuir em 30% a emissão de carbono até 2030
  • Diminuir em 40% a geração de resíduos sólidos até 2030
  • Utilizar apenas embalagens retornáveis ou recicláveis até 2025

Social

  • Ter 50% dos postos de liderança ocupados por mulheres e por pessoas negras até 2025
  • Zerar a ocorrência de acidentes de trabalho até 2025
  • Tirar 200 mil pessoas da linha da pobreza nas zonas de influência da empresa até 2025

Governança

  • Ter 100% das pessoas em cargos de liderança treinados em temáticas anticorrupção até o fim do ano
  • Definir o procedimento a ser adotado em casos de conflito de interesse até o fim do ano
  • Estabelecer a política antitruste da companhia até o fim do ano

Agenda 2030 e as metas

Um bom ponto de partida para o estabelecimento de metas, além da matriz de materialidade, é a Agenda 2030 da ONU

A Agenda 2030 estabelece 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de 169 metas para erradicar a pobreza e estabelecer condições de vida dignas em todo mundo até 2030 levando em conta as três dimensões de sustentabilidade: econômica, social e ambiental.

A agenda 2030 da ONU: 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
A agenda 2030 da ONU: 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os ODS não se referem à atuação de uma única companhia, mas sim a um compromisso global compartilhado entre diversos atores (empresas, governos e sociedade civil). Ainda assim, os ODS podem servir como um norte no planejamento de ações ESG.

3. Envolva todos os departamentos da companhia, incluindo a alta hierarquia

Para que práticas de ESG sejam efetivas, é importante que elas sejam um compromisso de toda a empresa, incluindo a alta liderança.

Claro que é importante contratar especialistas no tema ou criar áreas específicas. Mas qualquer solução que seja concebida e implementada apenas por uma área – seja ela o Jurídico, o Marketing ou o RH – tem grandes chances de não alcançar o resultado desejado.

 Por isso, todas as áreas devem ter metas ESG. Para que a agenda ESG seja realmente levada em consideração nas tomadas de decisão da empresa, sobretudo as decisões estratégicas, é importante que esteja presente em todos os departamentos. 

4. Utilize métricas para a avaliação do resultado obtido e elabore relatórios de sustentabilidade

Para saber se a agenda ESG está sendo efetivamente implementada, é muito importante mensura-la com métricas e publicá-las em relatórios periódicos.

Métricas ESG

O desenvolvimento de métricas é fundamental para que as políticas de ESG deixem de ser apenas boas ideias no papel e ganhem corpo, combatendo práticas como o greenwashing e o socialwashing

A avaliação da performance de uma empresa nesses assuntos não obedece a uma fórmula única. Uma forma possível é por meio de agências de avaliação (rating), que avaliam as empresas a partir de dados obtidos por meio de notícias, relatórios de sustentabilidade, relatórios do terceiro setor, entre outros. 

Algumas dessas agências são a MSCI, Sustainalytics e a Fitch Ratings. Índices de bolsas de valores também podem trazer informações sobre os compromissos ESG de empresas listadas, como é o caso do Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, a bolsa de valores oficial do Brasil.

Produção de relatórios

Também é importante produzir um relatório anual de sustentabilidade para dar transparência ao que está sendo feito na empresa.

Um dos padrões mais seguidos e aceitos internacionalmente para este tipo de relatório é o da Global Reporting Initiative. Também conhecido como “Relatório GRI”, ele comunica de forma customizada e simplificada como está sendo desenvolvida a agenda ESG na empresa. 

Uma palavra final

É notável o avanço da agenda de ESG nos últimos anos, principalmente a partir de 2020. Ela evidencia o papel fundamental desempenhado pelo setor privado na proteção do meio ambiente, no respeito aos direitos humanos e na promoção da transparência, participação e acesso à informação. 

Ainda há muito o que se desvendar em termos de ESG para que as práticas empresariais estejam integralmente alinhadas a esses princípios, o que inclui o desenvolvimento e disseminação de métricas e o combate ao greenwashing e ao socialwashing

Mas uma coisa é certa: a tendência veio para ficar. O escritor e ativista francês Victor Hugo certa vez escreveu que “nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”

O tempo em que empresas poderiam conduzir suas operações buscando apenas o lucro passou. O respeito a questões ambientais, sociais e de governança é um imperativo e empresas que saiam na frente nessa corrida em direção ao topo certamente observarão vantagens frente a investidores e consumidores.   

Quer ajuda para adaptar sua empresa aos novos tempos de ESG? Fale conosco! Nossa assessoria está pronta para trabalhar com vocês neste caminho!

Este informativo contou com contribuições de Joana Nabuco, advogada e Mestre em Direito pela NYU School of Law.

ESG é uma sigla que veio para ficar. Essas três letras, quando reunidas, transmitem uma mensagem importante: preocupações sociais e ambientais devem fazer parte da vida de qualquer empresa, não apenas o lucro. 

O resultado financeiro positivo deve ser acompanhado pelo atendimento a parâmetros mínimos de preservação do meio ambiente, respeito aos direitos humanos, transparência, etc.

Vamos conhecer um pouco mais?

O que “ESG” significa?

ESG é a junção das letras iniciais das palavras environmental, social and governance (do inglês, ambiental, social e governança). A sigla apareceu pela primeira vez em 2004 no relatório Quem se importa vence: conectando mercados financeiros a um mundo em mudança, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU)

Desde então, essa sigla vem ganhando força! A Agenda 2030 da ONU, por exemplo, estabelece metas com o objetivo de erradicar a pobreza, combater a desigualdade e proteger o meio ambiente. Essas metas são voltadas principalmente aos governos, mas a compreensão de que o setor privado desempenha um papel importante fez com que crescesse o debate em torno do ESG.

BlackRock e o grande impulso de “ESG”

Você conhece a BlackRock? Ela é a maior gestora de ativos do mundo, com cerca de U$6 trilhões de patrimônio sob gestão (TRILHÕES DE DÓLARES… você leu certo!!). 

Em termos simples, a BlackRock investe esse montante gigante em outras empresas, que geram retornos aos investidores. 

Em janeiro de 2020, Larry Fink, diretor-presidente da BlackRock, enviou uma carta anual aos executivos da empresa reconhecendo que mudanças climáticas transformarão as finanças globais. 

Afirmou também que a sustentabilidade passaria a ser levada em conta nas decisões da gestora, que, por exemplo, sairia de investimentos de alto risco em termos de sustentabilidade.

Por que esse foi um marco tão importante? Por um motivo simples: a BlackRock tem dinheiro – muito dinheiro. Se ela diz que seguir práticas de ESG é importante para que empresas recebam o seu investimento, elas terão um estímulo gigantesco para seguir. Caso contrário, não poderão contar com investimentos da BlackRock.

Uma vez que essas empresas adotem práticas de ESG, outras ligadas a elas também precisam adotar… e assim temos um efeito dominó enorme!

E, S e G: o que cada letra quer dizer?

Talvez você esteja se perguntando: “Ok, entendi que estamos falando de algo grande! Mas, na prática, como é esse tal de ESG?”

Para responder a essa pergunta, vamos analisar cada uma das três letras da sigla

Environmental (ambiental)

No eixo ambiental, espera-se que empresas levem em conta os impactos que suas operações têm sobre o meio ambiente, adotando medidas para minimizar impactos negativos futuros e reparar impactos negativos que já tenham sido causados. 

Uma indústria que funciona perto de um rio, por exemplo, deve buscar ao máximo preservá-lo. Se houver alguma poluição, é necessário que se dedique imediatamente a limpá-lo.

Se você tem uma ONG ligada à causa ambiental, já deve ter visto aqui uma oportunidade!

Social

Dentro das práticas sociais, empresas devem olhar para os impactos sobre os direitos de seus empregados, colaboradores e comunidade no entorno

Isso inclui observar políticas de diversidade, o combate ao trabalho análogo ao escravo e trabalho infantil, pagamento justo aos colaboradores, instituição de políticas de combate ao assédio, escuta às comunidades locais, entre outros. 

A respeito da diversidade, estudos revelam, inclusive, que essas práticas podem ter uma relação direta com a boa performance financeira de uma empresa. 

Talvez você também tenha visto aqui uma oportunidade para sua ONG… já já falaremos disso!

Governança

Tradicionalmente, governança corporativa é o sistema pelo qual empresas são dirigidas e monitoradas.

O G de “ESG” faz referência a boas práticas para dirigir e monitorar empresas, em linha com as que descrevi acima.

Aqui eu poderia citar: políticas de transparência e acesso à informação, independência do conselho de gestão da empresa, existência de regras claras sobre ética corporativa, uma estrutura empresarial adequada, entre outros.

ESG é mais do mesmo?

Você pode ter lido as linhas acima e pensado que ESG é uma velha história com nova embalagem: empresas querendo fazer algo para minimizar impactos socioambientais.

Será que é isso mesmo?

ESG e termos similares

De fato, ESG é, em partes, semelhante a conceitos já bem antigos. 

A Responsabilidade Social Corporativa, por exemplo, chegou no Brasil ainda no último século. Faz referência a contribuições das empresas para o desenvolvimento sustentável – fora das obrigações legais. Uma distribuição de cestas básicas de uma empresa para a comunidade do seu entorno, por exemplo, pode ser enquadrada neste escopo.

Outro conceito bem semelhante é o Triple Botton Line. Trata-se de uma linha de gestão que preza pela sustentabilidade de forma ampla, considerando aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Diferenciais de ESG

No meu ponto de vista, entretanto, ESG traz duas novidades principais: aponta de forma clara onde as empresas devem agir e é voltado para investidores.

Em primeiro lugar, ESG estabelece áreas de ação para empresas: Ambiental, Social e Governança. Enquanto responsabilidade social, por exemplo, é um termo mais amplo, ESG aponta onde os recursos e a energia da empresa devem se concentrar. 

Isso também mostra que as empresas devem se preocupar com os impactos negativos que elas causam sobre o meio ambiente e os direitos humanos. A balança não se equilibra quando existe uma ação de responsabilidade social bacana de um lado, mas impactos negativos de outro. 

Em segundo lugar, ESG é voltado fundamentalmente para investidores. E qual a grande novidade nisso? A diferença é que, se investidores adotam ESG como parâmetro para investir seu dinheiro, as empresas, que precisam do dinheiro, se veem pressionadas a fazer também – como aconteceu no caso da BlackRock.

Greenwashing e socialwashing: como ESG pode ser usado com finalidades erradas

Os termos greenwashing e socialwashing (lavagem verde ou lavagem social, em português) são empregados para os casos em que práticas ambientais e sociais são utilizadas como ferramenta de propaganda, sem que ocorram na prática. 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) analisou os rótulos de mais de 500 embalagens de produtos para identificar a prática de greenwashing. O estudo identificou que 48% das embalagens continham informações falsas sobre práticas de responsabilidade ambiental.

Para evitar essas armadilhas, o IDEC recomenda que consumidores fiquem atentos a alguns fatores no momento da compra, incluindo a utilização de termos vagos (como “ecológico”, “sustentável”, entre outros) e a existência (ou não) de selos e certificados oficiais de sustentabilidade (como o selo IBD Orgânico e o Selo Verde do Instituto Chico Mendes).

Como ESG pode ser uma oportunidade para sua ONG?

Desde que a BlackRock publicou a sua carta, em fevereiro de 2020, empresas têm voltado cada vez mais recursos e atenção para áreas de ESG.

Nesse contexto, as organizações sociais estão em um lugar extremamente privilegiado. Ao contrário de muitas empresas, as ONGs já conhecem suas comunidades e sabem como gerar impacto socioambiental positivo nelas!

Em outras palavras, podem ajudar as empresas a executar suas práticas ligadas ao Ambiental (“E”), ao Social ( “S”) ou à Governança (“G”).

Assim, trago 4 passos para que sua organização firme parcerias para ajudar empresas a implementar ações ligadas a ESG:

1. Identifique em qual dessas áreas sua ONG pode ajudar as empresas

Para que uma empresa te veja como bom parceiro de ESG é necessário que você tenha uma clara proposta de como pode ajudá-la a implementar ações em alguma das frentes (E, S ou G)

Se sua organização for especialista em distribuir cestas básicas, por exemplo, pode abordar uma empresa para ajudá-la no braço social.

Se atuar na causa de meio-ambiente, pode assessorar a empresa a implementar práticas ligadas à frente ambiental.

Se, por outro lado, sua ONG for ligada a direitos humanos, que tal auxiliar a empresa a tornar o ambiente de trabalho mais diverso, aprimorando a governança?

Antes de buscar as empresas para oferecer-se como parceiro de ESG, certifique- se como você conseguirá ajudá-las na implementação desta agenda!

2. Converse com as empresas

Faça uma lista de empresas com as quais você queira conversar para ajudar a implementar ações de ESG!

Recomendo que liste empresas com as quais já tenha contato. Será muito mais fácil marcar reuniões com elas! Se você não tiver nenhum nome em mente ou se quiser fazer uma lista mais ambiciosa, pode inserir também empresas com as quais nunca tenha conversado.

3. Ative a lista

Por mais potente que seja o conjunto de nomes que você colocou na lista, eles não vão fazer nada sozinhos.

Ativar a lista é falar com as empresas. Envie um e-mail, mensagem de texto, ligue… enfim, faça contato e marque uma reunião com a empresa para falar sobre sua organização.

Se você optou por colocar na lista pessoas que você não conhece, busque seus contatos pela internet. Duas sugestões são buscar o perfil no Linkedin ou o e-mail no Google. Em ambos casos, vale ressaltar, a chance de resposta é baixa.

4. Faça reuniões e ofereça a parceria

Se você tiver seguido os passos acima, conseguirá marcar reuniões com algumas empresas para falar sobre ESG. Para que suas reuniões sejam bem sucedidas – e você consiga fechar parcerias boas para ambos lados – siga estes pontos abaixo:

4.1. Preparação

Ao preparar uma reunião com uma empresa você deve estudá-la. A empresa já tem ações de ESG ativas? Qual resultado ela desejaria?

Depois de fazer este dever de casa, prepare a reunião com foco em quem estará ouvindo. As empresas são diferentes e os objetivos dos encontros também. 

4.2. Realização da reunião

Você não terá muito tempo. É duro falar isso, especialmente para você, que ama sua organização. Mas a verdade é que você não terá muito tempo.

Suas reuniões dificilmente durarão mais de uma hora – sendo que algumas podem começar a perder o fôlego com 30 minutos.

Por isso, administre bem o tempo nas reuniões com empresas. Se você quiser mostrar um vídeo, que tenha menos de 2 minutos. Se for levar uma apresentação, tente sintetizar as informações em poucos powerpoints

4.3. Ofereça a parceria

Uma vez que a reunião tenha sido feita e exista uma convergência entre as ações da ONG e a agenda de ESG da empresa, ofereça uma possibilidade de parceria!

Esta parceria pode ser desde um projeto de consultoria oferecido pela ONG para que a empresa implante regras claras sobre ética corporativa até uma oficina gratuita de capacitação profissional para parentes de funcionários.

O importante, aqui, é que seja algo que a empresa precisa para aprimorar sua agenda de ESG e a ONG tenha capacidade de oferecer!

Uma palavra final

É notável o avanço da agenda de ESG nos últimos anos, principalmente a partir de 2020. Ela evidencia o papel fundamental desempenhado pelo setor privado na proteção do meio ambiente, no respeito aos direitos humanos e na promoção da transparência, participação e acesso à informação. 

Ainda há muito o que se desvendar em termos de ESG para que as práticas empresariais estejam integralmente alinhadas a esses princípios, o que inclui o desenvolvimento e disseminação de métricas e o combate ao greenwashing e ao socialwashing

Mas uma coisa é certa: a tendência veio para ficar. O escritor e ativista francês Victor Hugo certa vez escreveu que “nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”

O tempo em que empresas poderiam conduzir suas operações buscando apenas o lucro passou. O respeito a questões ambientais, sociais e de governança é um imperativo e empresas que saiam na frente nessa corrida em direção ao topo certamente observarão vantagens frente a investidores e consumidores.   

E, claro: sua ONG DEVE embarcar nessa tendência. Você tem tudo para auxiliar as empresas nessas práticas e certamente o recurso das empresas é fundamental para seu trabalho!

Por isso, parta agora para ação! Sua ONG tem um grande valor nesta nova era!

Este informativo contou com contribuições de Joana Nabuco, advogada, Mestre em Direito pela NYU School of Law e pesquisadora no Centro de Direitos Humanos e Empresas da Fundação Getulio Vargas.