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Diversos estudos, conduzidos por iniciativas chave em investimentos ESG ao redor do mundo, provam que empresas ESG têm melhores resultados financeiros no longo prazo – seja pela otimização de gastos, pelo aumento do faturamento ou pelo maior acesso a investimentos.

Porém, para chegar a estes resultados, é necessário implementar uma estratégia de sustentabilidade. E isso demanda aporte de recursos financeiros e de tempo da equipe

Por se tratar de investimentos em curto prazo para resultados em longo prazo, é muito comum que exista certa resistência a implementar uma estratégia ESG

Necessidades vistas como mais urgentes, como contratações, acabam pulando na frente.

Por isso, neste texto falarei um pouco sobre como vencer essa resistência e conseguir na sua empresa o orçamento necessário para implementar uma estratégia ESG.

Antes de seguir, gostaria de frisar, novamente, que este movimento gerará resultados financeiros em longo prazo. Por isso, um orçamento ESG deve ser sempre visto como investimento, nunca como gasto

Porque uma empresa implementa ESG?

Antes de responder de forma mais direta à pergunta deste tópico, gostaria de te dizer que neste post não me aprofundarei conceitualmente em ESG.

Temos posts maiores e mais completos nos quais eu falo sobre O que é ESG e porque é importante para sua empresa, Empresas ESG: por onde começar?, Investimentos ESG e também especificamente sobre o pilar ambiental, o pilar social e o pilar de governança

Se você considera importante esta leitura conceitual antes de avançar, recomendo que clique nos links acima.

Os poucos pontos que acho importante ressaltar aqui são:

  • Uma estratégia ESG bem feita necessariamente começa definindo temas materiais, estabelece metas e planos de ação e precisa ter um relatório atestando resultados
  • Uma estratégia ESG bem feita lança luz sobre riscos ambientais, sociais e de governança, integra a estratégia central da empresa e gera resultados financeiros em longo prazo
  • Uma estratégia ESG bem feita requer alinhamento com a cultura da empresa e apoio da alta liderança

Convicção, conveniência e compliance

Feitas as ressalvas acima, vamos seguir para aquelas que, na minha opinião, são as 3 motivações primárias para empresas implementarem estratégias ESG: compliance, convicção e conveniência.

Compliance

Compliance, como você já deve saber, vem do verbo inglês to complyou, em português, “cumprir”. Quando uma empresa implementa a agenda ESG motivada por compliance, ela o faz para cumprir alguma exigência legal ou de investidores.

O boom regulatório

Há uma pressão crescente e notável de governos de todo mundo para que empresas cumpram exigências regulatórias ligadas à sustentabilidade.

Para você ter uma ideia, dentre as 50 maiores economias do mundo, 48 têm algum tipo de política regulatória sobre sustentabilidade

Elas somam atualmente mais de 730 leis ou exigências formais. O curioso é que mais de 90% delas sequer existiam em 2000.

Além da pressão legal, há também a pressão dos investidores. 

Em 2021, 36% dos recursos sob gestão no mundo obedeciam a alguma estratégia de investimentos ESG. Ou seja, são investidos com base em considerações que levam em conta os pilares social, ambiental e de governança.

Assim, empresas vêm sofrendo uma crescente pressão top-down. Governos e investidores vêm endurecendo regras e passando a exigir alinhamento das empresas com ESG.

Esta pressão é a primeira motivação para uma empresa implementar uma estratégia ESG. No Brasil, ela já se traduz concretamente na resolução CVM 59 e na Circular 666/2022 da SUSEP

Conveniência

Empresas que implementam uma estratégia ESG por conveniência são aquelas que, mesmo não sofrendo pressão regulatória, entendem ser conveniente implementar esta agenda por alguma outra pressão mais sutil, como o mercado consumidor. 

Outras pressões

Segundo um estudo da Deloitte, até o ano de 2025 teremos 75% da força de trabalho no mundo composta por Millennials (nascidos entre 1980 e 2000) e pela geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). Estas são gerações que sabidamente valorizam propósito e sustentabilidade nas empresas.

Esta transformação na força de trabalho é por si só um estímulo para que empresas busquem implementar ESG. Sustentabilidade deverá significar funcionários mais felizes, menor turnover e menores custos com reposição de mão de obra.

Logo veremos também estas gerações assumindo protagonismo no mercado consumidor e mais dispostas a consumir de empresas que se mostrem mais sustentáveis.

Por estes motivos, é natural que empresas passem a aderir à agenda ESG por conveniência. Mesmo sem regulações formais, a pressão do mercado será um vetor crescente.

Convicção

Empresas que implementam uma estratégia ESG movidas por convicção são aquelas que o fazem mesmo sem perceber necessariamente alguma pressão. 

O movimento deriva da convicção de seus membros sobre a importância e a centralidade da sustentabilidade.

A sustentabilidade como elemento necessário

Uma rápida olhada nos indicadores ambientais é capaz de deixar qualquer pessoa preocupada.

Segundo o Emissions Gap Report 2020, rumamos para um mundo de pelo menos 3 graus celsius mais quente até o fim do século – o que mudaria decisivamente o planeta terra. 

Em paralelo, atualmente, há aproximadamente 1 milhão de espécies em vias de extinção devido à ação humana, que hoje já afeta 75% da terra e 66% dos oceanos.

Esses e outros dados já vêm alarmando muitos empresários que, mesmo sem nenhuma pressão interna ou externa, vêm colocado ESG no centro de suas estratégias.

Particularmente, acho que, dado o estado da degradação social e ambiental no qual a humanidade se encontra, esta tomada de consciência é urgente. 

Quanto mais empresas agindo de forma sustentável por convicção, mais rapidamente teremos um mundo viável.

Última consideração sobre as motivações

Apesar de ter apresentado as motivações das empresas de forma separada, é claro que elas se interrelacionam. 

Pode haver empresas, por exemplo, que agem por convicção de uma parte das pessoas, mas que decidiram implementar ESG por medo de pressão regulatória.

O mais importante aqui é que você consiga diagnosticar qual a motivação PREDOMINANTE na sua empresa

Ela será o eixo central da formulação de argumentos para alcançar o orçamento desejado.

Como uma empresa aprova seu orçamento empresarial?

O orçamento empresarial é um documento com as projeções de receitas e despesas de uma empresa ou área, normalmente elaborado para o período do próximo ano, semestre ou trimestre, de acordo com a periodicidade escolhida pelos gestores.

A forma como a aprovação do orçamento empresarial acontece varia muito de empresa para empresa, mas de maneira geral costuma seguir esses passos:

  • Passo 1 – Realização do planejamento estratégico que vai definir as metas e diretrizes da empresa e de cada uma das áreas
  • Passo 2 – Cada área elabora seu orçamento baseado em suas metas e diretrizes, garantindo que vai ter os recursos para colocá-las em prática
  • Passo 3 A área financeira da empresa, mais especificamente os responsáveis pelo planejamento financeiro, analisa esses orçamentos para consolidar de acordo com o planejamento para a empresa.

Quais pessoas estão envolvidas na aprovação do orçamento para ESG?

Mais uma vez, não existe uma resposta certa. Porém, como as estratégias ESG devem permear as estratégias do negócio, na minha opinião, vão passar de alguma forma pelo presidente ou pelo CEO e pelo conselho da empresa.

Caso essas pessoas não estejam envolvidas de nenhuma forma na implementação do ESG no negócio, alguma coisa provavelmente está errada. Nesses casos você já percebe que o tema não é levado a sério e as ações sustentáveis são pulverizadas.

De toda forma, uma análise na estrutura da empresa pode ajudar a entender um pouco mais quem está envolvido nessa aprovação do orçamento ESG.

Quem pode estar envolvido na criação do orçamento?

Para começar, se a empresa já possuir uma área voltada para ESG, invariavelmente uma decisão de novos projetos ou orçamento para ações sustentáveis vai passar por ela.

Por exemplo, na CSN foi criado um comitê de assessoramento de práticas ESG e imagino que o orçamento para as iniciativas ESG passe pela aprovação dos responsáveis desta área.

Caso a empresa não possua uma área voltada para ESG especificamente, essas estratégias tendem a cair para a responsabilidade do presidente ou de uma área que tenha mais relação com o tema. 

Isso pode variar de acordo com o setor de atuação ou estrutura de responsabilidades do negócio, mas é comum ver as áreas de Recursos Humanos ou de Operações assumindo esse papel

Como aprovar um orçamento para ESG na sua empresa em 5 passos?

Agora que já falamos bastante sobre a parte teórica, vamos ser bem práticos: vamos entender os passos para aprovar um orçamento para ESG na sua empresa.

Passo 1: Identifique quem tomará a decisão final

Quem tomará a decisão final sobre a aprovação do orçamento de ESG?

Como disse acima, esta resposta pode variar muito de empresa para empresa. O ideal é que seja o presidente, o CEO ou o conselho. Nestes casos, você saberá que tem o respaldo da alta liderança para executar uma estratégia coesa e alinhada com o core business da organização.

Se você identificar que presidente, conselho ou CEO não estarão ao seu lado neste processo, talvez seja o caso de reconsiderar se é mesmo o momento de trazer este tema.

Passo 2: Identifique quem vai te ajudar neste processo

Para que sua proposta de orçamento tenha sucesso, é importante conquistar outros apoiadores dentro da empresa.

Neste caso, não precisa ser a alta liderança. Pode, claro, ser um vice-presidente ou diretor. Mas pode também ser alguém com nível gerencial.

Estas pessoas te ajudarão a ter uma resposta favorável do tomador de decisão e também te auxiliarão na formulação da proposta.

Muitas vezes seu pedido de orçamento para o CEO durará apenas 20 minutos. Por isso, é importante que antes você tenha outros olhares qualificados, que tornarão seu pedido ainda mais arrebatador.

Vale lembrar que se a empresa já tem uma área de ESG ou de responsabilidade social – ou ainda alguma área correlata que cuide de ESG – estas pessoas necessariamente precisarão ser abordadas e estarem ao seu lado neste processo de aprovação orçamentária.

 Passo 3: Identifique seus argumentos

Convicção, compliance ou conveniência? Este é o momento de escolher qual será o caminho pelo qual sua proposta terá mais chances de sucesso.

Busque olhar ESG com os olhos do tomador de decisão e entender o que fará com que ele aprove o orçamento.

Se estivermos falando de uma empresa que vai abrir capital na bolsa nos próximos dois anos, por exemplo, busque focar no compliance. Ela precisará atender medidas regulatórias.

Se for uma empresa que vende para jovens, mostre que este público está consumindo sustentabilidade com um apetite crescente. Aqui, estamos falando de conveniência.

Uma vez identificado o principal eixo argumentativo, busque dados que dêem lastro aos seus pontos de vista. 

Neste texto você já consegue alguns: o crescimento no número de leis e exigências formais sobre sustentabilidade nos últimos 20 anos, a crescente demanda por sustentabilidade dos millennials ou as graves consequências com as quais a humanidade já terá que lidar devido ao aquecimento global. 

Passo 4: Formule o orçamento

Uma vez que você já tenha em mãos os argumentos e o caminho para chegar ao “sim”, é hora de elaborar o orçamento.

Um orçamento para ESG deve contemplar pelo menos 4 fases:

1a fase: Diagnóstico/materialidade – Nesta fase serão identificados quais temas devem ser tratados pela empresa na ampla agenda ESG

2a fase: Formulação de estratégia de sustentabilidade – Esta é a hora de desdobrar os temas materiais em metas e planos de ação, para que eles efetivamente sejam implementados na empresa.

3a fase: Implementação – É o momento em que os planos de ação serão executados para atingir as metas em cada um dos temas materiais.

4a fase: Produção de relatório de sustentabilidade – Por fim, a empresa deve produzir um relatório GRI, um modelo que eu indico por obedecer a normas de relato mundialmente aceitas. Por meio deste relatório, a empresa comunicará e comprovará o desenvolvimento de uma agenda ESG.

Passo 5: Apresente o orçamento

O último passo para conseguir a aprovação de um orçamento de ESG é a apresentação para o tomador de decisão.

Esta apresentação pode ser feita por você sozinho, com outras pessoas ou mesmo por uma área da empresa que tenha mais familiaridade com o tema.

Como é impossível controlar a aprovação ou não do orçamento, o importante é que números e dados estejam bem construídos e que a ideia central seja passada.

Considerações finais

A aprovação de um orçamento consistente é uma etapa necessária para implementação de uma estratégia de ESG efetiva.

Sempre falo por aqui que ESG no modo easy não existe. Pintar de verde iniciativas que a empresa já tenha ou iniciar atividade esporádicas e desligadas da estratégia central não fazem dela ESG.

O Brasil, inclusive, está avançando muito no arcabouço para permitir a implementação de estratégias ESG reais. Em 2022, por exemplo, foi lançada a norma ABNT 2030, padronizando eixos, métricas e documentos orientadores.

Todo este processo de aprovação de orçamento e posterior implementação pode ser um pouco técnico e difícil. Por isso, conte com a Norte em todas as etapas!

Temos experiência em consultoria e em ESG e podemos te ajudar com esta agenda. Seja implementando do zero, aprofundando ou adaptando sua estratégia. Basta pedir uma proposta de consultoria que poderemos te ajudar!

E, claro, se este post te ajudou, mande um e-mail ou deixe um comentário aqui embaixo pra gente te conhecer melhor!