Como as ONGs captam recursos? Quais suas principais dores? Essas foram algumas das perguntas que fizemos no 1º levantamento da Norte sobre Captação de Recursos.
Ele ocorreu entre 24/5 e 27/5, tendo como principal meio de divulgação o whatsapp.
O questionário foi respondido 107 vezes por ONGs de todo Brasil.
A captação de recursos foi apontada, de forma quase unânime, como uma grande dor. Entretanto, constatamos também um grau de maturidade diverso entre as organizações.
Para facilitar a leitura vamos fazer assim: pergunta, resultado e breve análise. Assim você pode escolher o que ler – inclusive tudo 😉
Vamos lá?
Pergunta 1: Como sua ONG capta recursos financeiros hoje? (marque a opção que mais se aproxima da sua realidade)
Esta pergunta sintetizou a diversidade do estudo, devido às respostas pulverizadas.
Chama atenção a existência de polos numerosos bem distintos. Enquanto praticamente 20% das ONGs afirmam planejar a captação, o estágio mais avançado de maturidade, quase metade afirma que ou não capta ou que capta pontualmente, sem esta atividade ser contínua.
Já o meio do caminho foi a opção individualmente mais votada. Para 25% das ONGs, o dinheiro vem sem muito controle. Ou seja, há a preocupação de manter a captação como atividade contínua, mas não a de planejá-la.
Por fim, a opção menos numerosa foi a de ONGs que seguem uma estratégia preferida continuamente (os comentários sugerem que “Editais” seja a mais difundida).
Isso sugere que, quando uma organização se apropria do processo de captação de recursos, tornando-a contínua e proativa, logo tem o impulso de evoluir para um planejamento mais consistente.
Pergunta 2: Você faz algum tipo de planejamento para a captação de recursos financeiros, estipulando metas e/ou projetos?
Exemplos de resposta:
- Sim, metas e planejamento estratégico
- Recentemente criamos metas com editais e captação via benfeitores e eventos
- Sim, participando de editais e eventos
- Sim. Cada projeto tem um orçamento
Esta pergunta nos mostrou que pode haver uma confusão sobre o que seja planejar a captação de recursos.
Note que os dois primeiros exemplos acima sugerem claramente que as organizações planejam a captação de recursos. A palavra “meta” deixa isso muito claro.
As demais respostas, por outro lado, sugerem uma confusão entre projetos, estratégias e planejamento.
A terceira resposta “Sim, participando de editais e eventos” evidencia apenas que há estratégias preferenciais. Porém, isso não é necessariamente planejar. Elas podem ser executadas sem que, por exemplo, se estipulem metas – a base de um planejamento de captação de recursos.
A terceira resposta “Cada projeto tem um orçamento” também evidencia certa confusão. Um orçamento é, certamente, a base de um planejamento. Mas não é possível afirmar que a existência dele significa necessariamente uma captação de recursos planejada.
Pergunta 3: Qual orçamento anual da sua ONG? (se não souber, pode deixar em branco)
Não sabem: 67 organizações
Acima de R$ 10 milhões: 1 organização
Entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões: 2 organizações
Entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões: 6 organizações
Entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão: 3 organizações
Entre R$ 100 mil e R$ 500 mil: 7 organizações
Abaixo de R$ 100 mil: 10 organizações
Zero/não aplicável: 11 organizações
Aqui fica claro que a enorme maioria dos respondentes vem de pequenas organizações. Apenas 9 arrecadam mais que R$ 1 milhão por ano.
Corroborando esta visão, 78 aparentam sequer ter orçamento, por não terem preenchido o item ou apontarem que não dispõem deste número.
Esta é uma fragilidade preocupante para captar recursos, uma vez que um orçamento anual é a base para um planejamento consistente.
Porém, reflete fielmente os dados sobre ONGs no Brasil. De acordo com o IPEA, 95% delas têm menos de 5 funcionários.
Pergunta 4: Que tipo de informação te ajudaria a captar mais recursos financeiros? (marcar até 3)
As respostas aqui nos apontam como o acesso a recursos financeiros para as ONGs é uma dor urgente.
Segundo os respondentes, quanto mais o conteúdo der acesso direto a recursos financeiros, mais ele é desejado.
74% apontaram que gostariam de conhecer oportunidades de captação de recursos – de longe a opção preferida.
Outros conteúdos também são desejados, mas, quanto menos práticos, menos foram citados. Aproximadamente 40% citaram “casos de captação de recursos”, “vídeos com dicas” e “textos com dicas” como opções interessantes.
Já notícias, dados e eventos atraem 30% ou menos dos que participaram do levantamento.
Estas respostas são compreensíveis devido à urgência gerada pela falta de recursos. Por outro lado, preocupa a percepção de que o foco deve estar voltado para soluções de curto prazo – oportunidades de captar aqui e agora – em detrimento de informações que vão contribuir para construção de estratégias de longo prazo.
Conclusão
Não restam dúvidas que a captação de recursos é uma grande dor das organizações sociais. Talvez a principal delas.
Também fica claro que a dor gera urgência. As ONGs se veem espremidas entre as demandas dos beneficiários e a dificuldade de acesso a recursos financeiros. Desejam resolver isso logo, como quem toma um comprimido para febre.
O paradoxo, aqui, é que a urgência perpetua o problema, ao invés de resolvê-lo. O “fazer”, que as organizações adotam tão bem, é contraproducente.
Repetidos casos de sucesso apontam que só uma captação de recursos planejada, executada por pessoas dedicadas e voltada para construção de relações de longo prazo é capaz de aplacar esta dor.
A alternativa a isso são alívios de curto prazo, que logo voltam ao ponto inicial.
E aqui se inicia o ciclo perverso que aflige tantas ONGs: falta recurso – falta tempo/gente para buscar soluções permanentes – busca de soluções rápidas – falta recurso.
A utopia da Norte é um terceiro setor em que este cenário não seja mais a regra. Em que este seja o cenário apenas de novas organizações, que logo encontrarão apoio de uma rede para se desenvolver e crescer.
Chegarmos lá? Com certeza.
E chegaremos juntos!